09 agosto, 2002

Confissão
Depoimento de Manuela(De como Manu contou que ela se apaixonou)
“Por onde eu ando? Penso em falar. Falo sem pensar. Mas ele fecha os olhos enquanto eu falo. Digo que acordei sobressaltada. Ele me acalma, “mas era apenas um beijo meu”. Respondi que sabia. Oralidade. Brinco com as palavras, brinco nos ouvidos, caindo, sugados. Oro e falo em igreja e sexo. Comunguei-me com a secura do beijo umedecendo que ele me deu. Houve carinho. Entre nós não existe um espaço. Minha fantasia percorre, lasciva, o aperto de nossos abraços. As narinas dele respiram meu cheiro e eu sei que nossos sorrisos serão mais freqüentes que as noites bregas de estrelas luminosas nos comerciais de TV anunciando a marca de algum produto supérfluo. Fugi como um fluido durante anos. Há quanto tempo não me vês, coração?
No meu sonho havia uma corrente de ferro interrompendo a passagem. Eu a levantava com cuidado e a rodeava em seu pescoço. Enforquei-o sentindo-me livre para encarar o desconhecido. Mas ele acordou-me com um beijo e eu, sobressaltada, não pude pensar em outra coisa senão em entregar-me como uma assassina confessa de um passado estancado pela frieza de minha alma”.