22 junho, 2005

Democracia

Gosto de citações, mas admito que não sou muito bom nelas. Nunca lembro, por exemplo, quem declarou que a democracia não é um sistema infalível de governo mas ainda é o melhor de todos. Churchill? Digamos que Churchill seja uma espécie de Neném Prancha da política, a quem todas as frases espirituosas são atribuídas sem checagem anterior. Enfim, suponhamos que tenha sido Churchill. Isto posto, vale dizer que poucas coisas fazem tão mal a esta frase quanto um depoimento de Roberto Jefferson ou um de Maurício Marinho só que presidido pelo senador goiano Maguito Vilella. Os dois eventos certamente produzem no espectador mais lúcido a noção perfeita de que a democracia, pelo menos no Brasil, fracassou. Não que o regime militar tenha sido bem-sucedido. Pelo contrário. Talvez o regime militar tivesse sido a oportunidade histórica – e perdida – para um governo preparar o país e o povo para uma democracia real, participativa mas sob tutela de uma Constituição melhor aprovada. Perdida a chance, agora vemos estes espetáculos deprimentes – e o que mais deprime é que sabemos a verdade: em um evento teoricamente destinado a apurar irregularidades, os parlamentares preocupam-se apenas com a câmera da GloboNews.
A naturalidade com que se sempre falou de cargos como moeda entre partidos na República talvez nos devesse pensar mesmo na Monarquia como melhor regime. Ou no despotismo esclarecido. Ouvir Maurício Marinho falar que “percebemos que o contrato com a Xerox estava acima dos valores de mercado e fomos fazer pesquisa de mercado” causa a impressão de que o deputado que o indicou (José Chaves, de Pernambuco) deveria responder a cada vez que houvesse um superfaturamento “por distração”, como deu a entender.
Cada deputado ou senador deveria responder abertamente pelo seu tutelado. O povo deveria ser informado por Diário Oficial destas negociações entre Executivo e Legislativo para se manter a governabilidade. Te dou cem cargos D.A.S. e você me dá um voto para transformar em lei esta MP. É assim? Deixe-nos participar, então. Que se publique no início de cada mês que ganhou cargo e a origem. Por que não uma emenda constitucional? Assim, o povo poderia responsabilizar o José Chaves quando o Maurício Marinho aparecesse em uma gravação embolsando R$ 3 mil.
Agora, pior ainda é ter que acompanhar os trabalhos de uma CPI no Legislativo brasileiro. A ânsia por aparecer transforma o que deveria ser uma investigação profissional em uma reunião de moleques. Sujeitos com quatro, cinco mandatos, se comportam como canalhas menores, senadores da República como a sra. Heloisa Helena ficam andando de camiseta e invadindo microfones alheios para falar “em nome de advogados do depoente (no caso, Maurício). Maguito, que presidia a sessão, foi (bem) denunciado pelo deputado paulista e petista José Eduardo Cardoso: ao permitir cinco minutos de suspensão da sessão para Maurício “conversar com os advogados”, quebrou o regimento interno. Mas é claro que o PT vem quebrando muito mais regimentos – até os próprios, que nós sabemos.
Eu não saberia o que dizer, por exemplo, a um carioca que tem a coragem de votar em uma figura como Eduardo Paes – completamente destemperado e interrompendo o depoimento a todo instante, nitidamente para aparecer.
Enfim, um fracasso democrático. Todos nós já sabemos que não vai dar em porra nenhuma, ainda mais sendo feito desta maneira. Triste República. Não sei até quando com R maiúsculo, pois um dia vai ser como república de estudantes.

2 Comments:

At junho 24, 2005 12:55 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi.
Democracia é um termo anacrônico ou descabido mesmo. Nasceu na Grécia, como governo do povo, dos eleitos (grego homem, adulto, saudável, guerreiro, nobre ou livre); nada de mulheres, crianças, estrangeiros, "portadores de necessidades especiais". A partir dos estados-nação passa a ser governo de partes, representantes do povo (ruralistas, empresários, carreiristas,líderes religiosos, bem intencionados sindicalistas e qualquer um que mergulhe na malha da política achando que pode sair ileso). Aí estamos, hoje, com a democracia, que "teoricamente", deveria representar interesses de alguns (sempre poucos ainda que aparentemente dispersos) e se opor à tirania (governo de um só) e à ditadura (governo de uma parte só), mas que no fim só muda de cabide... (governo do demo, nos demo mal, tava demorando, de Tancredo a Lula demo no mesmo e por aí vai)!

 
At junho 26, 2005 9:53 PM, Blogger Andrré Machado said...

BEM-VINDO DE VOLTA, GUITARMAN!!!!
OBA!!!!! YEAHHH!!!

 

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