23 janeiro, 2004

O Rio
Há anos que os governos estadual e federal tentam, sucessivamente, destruir o Rio de Janeiro (sinceramente, depois do aumento de ICMS no início de 2003, não há mais dúvidas disso). Mas há alguns momentos em que a gente acha que vai demorar muito, momentos em que a gente diz "puta que pariu, essa cidade é foda". Relaciono alguns momentos PQPECEF.
1) No final de uma tarde de sábado, você andando de bicicleta pela Lagoa Rodrigo de Freitas, ali na altura do Corte.
2) Voltando à noite do Centro, de táxi, via aterro, você entra na parte da praia de Botafogo, vê o relógio digital, os prédios, o Mourisco, a praia, o Pão de Açúcar.
3) Saindo da Francisco Otaviano, vindo de Ipanema, de táxi, dobrando à esquerda e dando de cara com Copacabana inteira, Pão de Açúcar ao fundo, a maresia forte, dando um ar espectral ao mar que descansa da gente. Isso acontece quando venho à noite da casa de Marcele.
4) Pela manhã, bem cedo, indo para a Pista da Cláudio Coutinho, o sol tentando se impor às árvores da Praia Vermelha, o céu meio prateado, meio rubro, e uma sensação de que tudo está resolvido.
5) Novamente de bicicleta, você vai até o finalzinho do Leme, sobe a rampa e dá um tempo de uns cinco minutos ali no Caminho dos Pescadores.
6) À noite na Ataulfo de Paiva, saindo de um café revitalizador ali na Letras & Expressões, depois que você já exagerou nos chopes do Jobi. Independentemente da hora, pode ser três da manhã, tem gente na rua, movimento, e também uma leve maresia. Marcele me pediu ontem para ir andar e ver o mar, eu neguei (extremo cansaço), mas agora me arrependo um pouco.
7) Saindo no meio do trabalho, descendo ali na Rua Gonçalves Dias e pedindo um café grande e um misto com pão de leite na Colombo.
8) Bebendo uns 18 chopes pequenos, com colarinho, no Picote, ali na Marquês de Abrantes, vendo a gente de bem passando para lá e para cá, sussurrando sobre seu alcoolismo.
9) Caminhando no calçadão de Ipanema, vendo o mar, os bonés do América à venda por cinco reais, parando para falar com algum conhecido que sai da praia, suando, para depois dar um mergulho e comer um biscoito Globo. Se possível, ir à Chaika depois.
10) Saindo do casamento de um casal de amigos com a namorada mais nova, entrar bêbado no Lamas e, com a sensação de ser um pai de 60 anos cuidando da filhinha de 14, pedir um uísque duplo para você e um sorvete de chocolate para sua namorada.

Esse Rio aí, deve-se reconhecer, não pode ser imitado por cidade nenhuma no mundo, por mais que a gente veja tragédias inaceitáveis acontecendo.