19 novembro, 2003

Foco perdido
Outro dia estava conversando com meu amigo Colorado sobre a minha nova condição de sujeito saudável (devido às circunstâncias), e ele me perguntou se "cerveja sem álcool" adiantava alguma coisa. Elegantemente, eu disse que não dá. E comparei: cerveja sem álcool para alguém acostumado à biritar com álcool é como ouvir um CD com músicas do Roberto Carlos só que cantadas pelo João Kleber imitando o Rei. É perder o foco da situação.
Comecei a reparar então como se perde o foco facilmente na nossa vida moderna (?). Neguinho fala em pizza light, mas é evidente que pizza light não é pizza - pode ser qualquer outra coisa. É perder o foco. Já ouvi falar, por exemplo, em "feijoada vegetariana".
Eu acho que deveriam proibir que o nome "feijoada" fosse usado nesses casos - nada que não tenha o famoso "vodu de porco" (royalties para Cascalho Ventura, inventor da genial expressão) pode ser chamado de feijoada. Se não tiver uma orelha ou uma costela boiando, não pode nunca ser feijoada.
Vivemos mesmo a era do "perder o foco". São frustrantes as "tentativas" de substituir as coisas deliciosas mas prejudiciais à saúde por outras "lights". Tirando a Coca light, à qual já me acostumei, o iogurte e o guaraná Antártica, o resto dos genéricos Light não chega nem aos pés dos originais. Como comer "pizza de berinjela" impunemente?
Enfim, essas coisas de perder o foco é como chamar ergométrica de bicicleta. Ou é uma coisa ou é outra (mesma relação de homem e bailarino). Ergométrica é um negócio que faz suas pernas mexerem. Bicicleta é outro, que faz a mesma coisa mas te leva a algum lugar.
No mais, ninguém precisa explicar a ninguém que boneca inflável não é mulher. Logo, vamos simplificar.