26 novembro, 2003

Estupidez de escorpião
A estupidez deles não os deixa ver – mas ao contrário do que diz a música do Rei Roberto, no caso do meu bairro, amor não tem nada a ver com isso. O problema é a convivência e o ódio. Pensei nisso hoje, quando Marcele precisou ir até a Rua General Canabarro (onde estudei por quatro anos, no Cefet), na Tijuca, e tive que orientá-la a pegar dois ônibus, quando há uns 10 anos (ou mais), havia o saudoso 442 (Lins-Urca), que integrava o bairro com a Tijuca, o Méier, o Lins. Os motoristas e trocadores conheciam todo mundo, por causa do tempo de viagem, e acabavam criando bom relacionamento com os passageiros – sempre que eu me atrasava DOIS MINUTOS para pegar o busão das 6h20 da matina, o cara estava lá paradão, o ônibus com três passageiros, os cinco ocupantes do veículo entendendo que se eu não pegasse aquele, babau. Só às sete – horário em que eu deveria entrar.
O problema é que, nos fins de semana, o 442 trazia “aquela gente da Zona Norte”. A praia lotava, e alguns moradores preferiam resmungar em vez de simplesmente ir procurar outra. Aí veio a Associação de Moradores daqui – que é o lixo dos lixos, o que de pior existe em politicagem e bajulação de vereadores – e simplesmente fez lobby para que o 442 fosse extinto, para nos salvar dos terríveis suburbanos que assolavam nossa pobre prainha.
Resultado: os suburbanos passaram a vir de trem (já vinham antes), só que lotando o 107 (Central-Urca) muito mais do que já era lotado.
Ficamos assim: a decisão da Associação de Moradores fudeu o antigo passageiro de 107, que passou a conviver com os do 442, em um ônibus mais lotado. Fuderam com os moradores que porventura tivessem que pegar o 107 no fim de semana. Fuderam obviamente com os moradores da Tijuca e outros bairros, que passaram a ter que pegar dois ônibus para entrar e sair daqui. E fuderam com os moradores da Urca que não têm carro mas que por alguma razão precisam ir a bairros além da Central.
Nessa fudelança toda, só quem não entrou com a bunda foi a dondoca que continuou com a mesma vidinha de sempre, reclamando dos suburbanos que sujam a praia (infelizmente, a praia fica imunda mesmo, mas não acho que o problema seja geográfico). A dondoca continua tendo do que falar mal, enquanto seu lulu felpudo deposita quilos de merda ao ano na calçada em que os sem-cachorro pisam.
Urca association A Associação dos Moradores daqui, como qualquer uma, tem lá suas conquistas. Mas sua orientação política é de lascar. Em primeiro lugar, há anos dizem que “vão ver o problema do Foro Laudêmio”, que é um imposto pago por quem vive à beira do mar. É sério. Quem mora na beira do mar, mora em terreno da Marinha, e por isso paga 400 contos de réis por ano à União – um imposto que a gente paga e não vê em que está sendo usado.
Essa mesma Associação deixa que várias obras públicas sejam festejadas com faixas da vereadora-camaleão Leila Maywald, aquela que procura sempre se unir ao partido que está na frente.Hoje ela deve ser Cruzeiro (em 1996, vi isso de perto, trabalhando na assessoria de imprensa do PSDB).
Nos pontos de ônibus, a prefeitura instalou abrigos, que eram muito úteis para dias de chuva e mesmo de sol. Tinha anúncios, mas who cares a shit? Anúncios são fonte de custeio, podem ser úteis nesse caso. Sabem o que fez a Associação? Iniciou uma “campanha paisagista” contra os abrigos por causa dos anúncios. Sobre isso, nem vou falar mais nada, porque tenho a minha própria teoria.
No jornalzinho da Associação, volta e meia vem notícias policiais como “imediatamente acionado, o sargento Fulano abordou elementos que consumiam maconha na murada da Urca”. Uau! Imagino que isso tenha sido até filmado pelo 911 Urgente. Pena que não puderam abordar os elementos que há cinco anos saíram do meu prédio com diversas coisas retiradas de minha casa. Talvez por causa do horário – três horas da tarde – afinal os PMs precisam dormir durante o dia para estarem acordados à noite e flagrarem os tais elementos fumando maconha. Bom, espero que pelo menos sejam os mesmos que furtaram minha casa.
Assim é a vida aqui. Como na vida pública, somos consumidores exigentes e fornecedores relapsos. Antes de falar da sujeira realmente terrível deixada pelos frequentadores da Praia, queria ver os donos de cachorro fundarem uma cooperativa de Limpadores de Bosta. Quem sabe não gerariam empregos?
Por enquanto, vamos convivendo com essa estupidez de escorpião, encontrando soluções que só pioram para a maioria.