Por que às vezes é melhor voltar a trabalhar
De férias, terça-feira, final da tarde - após um dia pedalando ao sol, suando - dentro do meu quarto refrigerado, fico zapeando entre os canais. Volta e meia me deparo com o programa sempre tenebroso do João Kléber, que por incrível que pareça tem uma legião de simpatizantes por aí (na última vez que comentei algo recebi vários comments ameaçadores).
Atração do momento: ex-mulher do sambeiro ou pagodista Waguinho (do conjunto Os Morenos) reclama dele por causa de não pagamento de pensão. De um lado, pesando - literalmente - 120 quilos, a ex-mulher de Waguinho, berrando, dizendo que ele é um mentiroso. De outro, pesando uns 70 quilos, o Waguinho, que fica sorrindo cinicamente, negando as acusações. E rebate tudo dizendo que a ex vendeu por quatro mil reais um carro que valia pelo menos sete. "E onde foi parar esse dinheiro, meu Deus", completa João Kleber, como se falasse dos trinta milhões da tribo dos Silveirinhas.
A troca de canal após dois minutos é inevitável. Dou uma olhada na entrevista de Kate "Almost Famous" Hudson no programa do David Letterman, e chego à conclusão de que Letterman é chato pra cacete. Prefiro bate-boca de pagodeiro.
Mas eis a surpresa: 15 minutos depois, o que passa no programa do João Kleber não é mais o Waguinho batendo boca por causa de pensão. Deixo para o dedo-duro (a legenda que "chama" os telespectadores zappers para esses programas das TVs menores) explicar o que acontecia: "Waguinho solta a voz no programa Canal Aberto".
Isso sim é que é ser polivalente: o cara vai no programa, bate boca com a ex-mulher. Cinco ou dez minutos depois, ele está fazendo um play-back de seu mais novo sucesso.
Não continuei a ver, porque no mínimo a essa altura a ex-mulher dele iria aparecer dali a cinco minutos dando uma receita de rabada com agrião.
Por essas e outras é que não é tão ruim assim voltar a trabalhar.
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