18 setembro, 2002

Sobre um rapaz de Notting Hill
Escrevi certo o nome do local do filme? Não sei. Sei que vi, talvez no gestual dramático, semelhanças entre os personagens de Hugh Grant em "Um lugar chamado Notting Hill" e "Um grande garoto". Na verdade, parece que os dois se completam. Ambos se chamam William. E me parece que os dois se completam: onde há excesso de romantismo (o de Notting Hill), o cinismo entra como uma espécie de tábua da salvação, uma saída, uma válvula de escape. Nos comportamos de maneira cínica muitas vezes quando vemos que não há salvação para nossos fracassos amorosos. E é melhor que sejamos cínicos do que violentos, descompensados, grosseiros, intratáveis. Eu mesmo, antes de conhecer Marcele, tinha a mania de dizer que "estar sem namorada tem suas vantagens, a maior delas é que você vê o campeonato italiano na manhã de domingo". Dizia isso, mas um dia conheci Marcele e no outro reparei que eles dão preferência excessiva aos times de Milão e à Vecchia Segnora.
No William com excesso de cinismo, que é o de "About a boy", o romantismo surge de vez em quando como uma forma de humanizar um sujeito que começa o filme com orgulho das habilidades de sua cafeteira elétrica. O William de "About a boy" é um resultado de muito que aprendemos - principalmente nós, homens - entre os 14 e os 21 anos. Aliás, ontem mesmo, no trabalho, eu cheguei ao ponto de ouvir alguém falar o clássico "Para mulher você não pode ligar muito não, tem que dar uma ignorada". Bom, talvez para mim seja mais difícil por eu gostar de mulher, sei lá. Não me imagino "dando uma ignorada" em Marcele para "melhorar o relacionamento". Não me imagino fazendo algo tão idiota. Claro, campeonatos de FIFA 2000 são avisados previamente e não podem ser considerados como "ignorar".
Só que em "About a boy" o William do individualismo cai por terra ao longo do filme, e ele exibe uma preocupação com o próximo que até soa artificial - mas tudo bem, vale a intenção. Em "Notting Hill", esse William do individualismo "dispensa" a atriz Anna Scott (Julia Roberts) em um gesto extremamente infantil - tão infantil quanto às vezes o é Willian de "About a boy".
Os dois se encontram em finais semelhantes: tanto em "About a boy" quanto em "Notting Hill", William (Hugh Grant) não só não termina sozinho como ainda aparece mais gente que o programado. Os dois filmes são bacanas. Vale a pena dar uma olhada. Agora, sem dúvida, descobri algo mais britânico que o Big Ben ou o chá das cinco: o sotaque de Grant. Ininteligível.