22 setembro, 2002

O mundo, um passinho à frente por favor
Olha, na boa, tá lotado. O mundo, isso mesmo, tá lotado. Pelo menos a vida em uma metrópole já não tem o mesmo prazer de uns 20 anos atrás. Ou mesmo 15 anos. Lotou um absurdo. E a gente percebe isso a cada vez que vai em qualquer lugar. Acho que o único lugar nos últimos cinco anos ao qual eu fui e não estava lotado foi a última Mate-me por favor, um fiasco total. Mentira, Flamengo x Goiás também estava vazio. Bom, fui a outros lugares vazios, mas em nenhuma vez era fim de semana.
Aí você pára e pensa, em um sábado à noite: "A Lapa está lotada, a Loud - local ao qual eu não vou - está lotada, a Casa da Matriz - idem - está lotada, o, vá lá, Hard Rock deve estar lotado, o Leblon e Ipanema devem estar lotados". Você já começa a antever os locais explodindo de gente. E pensa, "bom, como está chovendo pra cacete, e como as pessoas no sábado procuram mais as diversões mais agitadas, uma sessão à meia-noite de cinema pode estar civilizada, desde que a gente chegue uma hora e meia antes para comprar o ingresso antecipado". Na hora em que eu e Marcele saímos da escada rolante no oitavo andar do Botafogo Praia Shopping, vimos uma fila para o Cinemark que fazia círculos concêntricos na enorme praça de alimentação. E não era fila de pessoas, e sim de grupos de pessoas. Em cada pedaço, umas seis pessoas em média.
Bom, chegamos a entrar na fila, em um lugar do qual ainda não dava para ver onde era o cinema. Havia ingressos para o filme que queríamos, "Sinais", mas eu cantei a pedra pessimista antes: "Depois que a gente ficar meia hora nessa merda, vai aparecer a palavra Esgotado". Tiro e queda.
Foi mais de meia hora, e metade da qual ouvindo uma menina de seus 23 anos atrás de nós dizendo qual era sua visão de mundo. Frases como "Ah, Cidade de Deus é realidade", "A rixa que tem lá é antiga, parece que é (sic) os judeus contra um não sei quê Palestina. Hã? Autoridade Palestina, né?", "O crítico do Globo diz que a classe média vai lá chorar e depois vai tomar um chopinho, mas e daí? Sou obrigada a ficar chorando o tempo todo?"
Deixamos uma fila de umas 400 pessoas esperando para comprar o único filme ainda disponível: "Retratos de uma obsessão", com Robin Willians. Acho que nem na festa de aniversário do Robin Willians deve haver 400 pessoas esperando para ver esse filme.
Abrimos mão de ir ao cinema, já que umas 10 mil pessoas pareciam ter a mesma idéia, e fomos jantar ali perto no ótimo Zio Peperone, onde a pizza é de forno a lenha. Arrematamos com um sorvete de licor e viemos ver "Chinatown". Dormi antes que Jack Nicholson aparecesse.