A maldição da xiboquinha
A maioria dos meus amigos sabe que eu até gosto de cerveja, mas é uma bebida que evito, por me dar constante azia, além de, ao lado do chope, ser terrivelmente diurética, obrigando o bom bebedor a interromper a conversa em média sete vezes em uma noite para se dirigir ao toalete.
Pois eis que descubro a xiboquinha, espécie de cachaça curtida com canela, com sabor extremamente leve mas potencial destrutivo semelhante ao das mais vagabundas Pitus ou Praianinhas. A xiboquinha parece muito com o Cravinho, uma bebida vendida clandestinamente no Carnaval baiano em garrafas de água mineral ou refrigerante. O Cravinho já gerou páginas policiais: negozinho andou misturando com Ropynol para dar efeito mais potente - eu mesmo acredito já ter tomado essa com Ropynol.
No Rio, a xiboquinha parece ser uma espécie de bebida oficial do samba. Onde tem uma roda de samba, seja em centro cultural, em barzinho ou mesmo no antiquário, pode crer que tem xiboquinha. É até legal, se você namora - um beijo de xiboquinha, com canela, costuma ser mais agradável que o bafo-de-onça que surge de um porre de tequila (o pior de todos) ou cerveja.
Fui em dois sambas, um na sexta, despedida de um colega do jornal, outro no sábado, aniversária de uma amiga, Marcelle Justo. Em ambos, havia xiboquinha. Obviamente, embarquei bem na primeira noite, e bebi com tranqüilidade, apesar do cansaço. Tudo bem que acabei indo embora cedo, de táxi, depois de iniciar uma conversa com uma menina do Marketing, sobre a transitoriedade da existência sob o ponto de vista do cinema belga.
No dia seguinte, foi a ressaca da xiboquinha de sexta misturada com mais xiboquinhas. E o resultado foi desastroso. Me lembro de ter me comprometido a ser padrinho do filho de um casal (tudo bem que é o casal mais bacana que eu já vi formado), só para fazer com que o futuro pequerrucho seja rubro-negro. Conversei com uma ex-colega de jornal (linda, por sinal) sobre alguma coisa durante o que me pareceram horas, na mesa do Capela. Não, não é isso que vocês estão pensando, não cantei a moça. Mas não me surpreenderei se ela vier me dizer que eu passei o tempo todo dizendo que o Brasil não ganhou a Copa de 1982 por causa da ausência do Lico.
Acredito que o repertório de merdas não parou por aí: fiquei vários momentos em silêncio absoluto, alternando com momentos de uma loquacidade capaz de fazer o narrador do Jockey Club parecer o Brizola. E lá pelas duas da manhã liguei pra casa do Marlos - claro, com o incentivo de Edmundo - avisando, "olha, estamos indo praí agora com uma garrafa de whisky, eu, Zé Otávio, Carlos Braga, Lalas, Edmundo e Viviane".
Não, não fomos. A xiboquinha ainda não tem o poder de provocar alucinações. Mas ao que parece, estão fazendo progressos neste sentido.
1 Comments:
Muito bom... kkkkk quase morri com essa porra tb!
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