Mais Elis
Alessandra falou sobre Elis e me relembrou a relação que tenho com a maior cantora brasileira. Sim, adoro desde criança ouvir "Velha roupa colorida", do Belchior, na voz de Elis, ela rangendo a voz quando diz "como o corpo do poeta morto, americano, eu pergunto aos passarinhos, Blackbiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiirrrrrrrd o que se faz?", maravilhoso. É do LP Falso Brilhante, que tem uma versão para uma música que na voz de Mercedes Sosa fica piegas, mas na voz de Elis é um hino: "Gracias a la vida". Me lembro de quando ouvia "e la voz tan tierna de mi bien amado", por ela, eu desejava ser esse bem amado, e ela dizia "e tu ojos claros", me lembrava que meus olhos são claros (apesar de já não serem mais bonitos) e queria ter Elis a meu lado.
Um dia, morreu, inexplicavelmente. Em 1982, de um jeito que até hoje não consigo entender. Me lembro de ouvir várias vezes, por ocasião de sua morte, "Romaria", em sua voz, talvez a coisa mais triste já gravada. Elis sabia dizer no fim da música, "meu olhar, meu olhar, meu olhar". Quem ouvia se identificava, trazia à tona seu gosto mais amargo. Como quando um antibiótico deixa um gosto na língua no dia seguinte, o timbre de Elis nessa música deixava um sabor estranho na alma quando terminava.
Até hoje considero "Elis & Tom" o disco mais perfeito da história da música brasileira. Também, pudera - é até sacanagem: juntar no mesmo disco a cantora mais perfeita junto com o compositor mais mágico de todos. Será de todos? Só sei que Elis e Tom é a redenção de todos os encontros frustrados. Se um dia alguém reclamar que Elvis nunca cantou com Janis Joplin, é só argumentar - temos Tom & Elis.
"Chovendo na roseira" é uma canção do otimismo, assim como "Paisagem inútil" é a do pessimismo. E tem também "Por toda minha vida", que é o máximo que pode ser alcançado em romantismo, um poema de Vinicius - gênio - adaptado para a melodia pungente de Tom: "Minha bem amada/quero fazer-te um juramento, uma canção/Eu prometo/Por toda minha vida/Ser somente seu/E amar-te como nunca/Ninguém jamais amou/Ninguém".
Essas coisas todas de Elis & Tom parecem pertencer a um mundo mecanizado - só que menos. Um mundo onde ainda se procurava o companheiro (a) ideal para os últimos dias da vida. Bom, conheço alguns amigos que encontraram (na minha modesta opinião), e estavam procurando. E isso já basta para me fazer um pouco mais feliz.
Quanto ao resto do mundo, às vezes tenho a impressão de que é uma mistura de dança da cadeira misturada com suruba. Quem ficar em pé na hora em que a música parar, fica com um negão enorme - independente do sexo.
Tá, desculpem, eu até que estava indo bem, tinha que terminar com sacanagem. Foi mal. Mas Elis & Tom é do bem.
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