09 julho, 2002

Momentos bizarros da TV brasileira
Eu devo ter sido uma das poucas testemunhas, afinal, o programa do Otávio Mesquita (seja em qual emissora fôr) tem sempre menos audiência que esse blog aqui. Mas dei a sorte de passar por lá zapeando e ver a cena-chave: a Gretchen em um convescote, sorrindo ao lado de malandro meio esquisito, com tatuagem gigante em um braço, cabelo para trás em tiara e barriga meio proeminente - apesar de magro. Achei engraçado e parei, sem saber que presenciaria momentos dantescos e bizarros da TV Brasileira.
Para começar, o dedo-duro (legenda) apontava "Fim do sonho de Gretchen", e eu não entendia nada, afinal, estava o cara ao lado, os dois abraçadinhos, dizendo que tinham se conhecido há três semanas e iriam.....casar! Isso, casar, assinar um documento judicial dizendo que ambos teriam a partir daquele momento direitos e deveres um com o outro. E por lei.
- Mas Gretchen, por que você sempre casa, apesar da relação anterior não ter dado certo? - foi a pergunta da repórter, meio esquisita, por sinal.
Vieram várias declarações - tudo isso, notem, ao som de uma música da Gretchen - meio religiosas, no sentido de que a Gretchen tem fé, acredita em Deus, e que Deus tem a ver com a presença do Cláudio - nome da fera - ao lado dela. Bom, tudo bem. Mais uma, apenas mais uma pessoa que acredita que Deus está em todos os lugares. Eu até acredito, se alguém me disser que ele está em todos os lugares, MENOS na Etiópia (afinal, o pessoal não serve nem um tira-gosto) e no casamento da Gretchen.
Nisso eu já estranhei, porque o malandro - no dia seguinte, no Globo, descobri que ele é cabeleireiro - não falou patavina. Não emitiu ruído. Seguiram-se cenas - desagradáveis - do cara de sunga beliscando uma carne (o churrasco, não a Gretchen, por favor), dos dois andando juntos, todo mundo rindo, abrindo a bocarra em slow-motion para a câmera, etc.
Aí, corta e entra a Gretchen no quarto de hotel, chorando - aliás, chorando não, aos prantos - explicando que o casamento não iria mais rolar, que Deus tinha mostrado a ela que aquela não era a pessoa certa, etc. O probleminha é que Deus parece que mostrou isso à Gretchen de uma forma meio rancorosa. Corta para a descrição sutil do próprio Otávio Mesquita:
- A Gretchen ia casar e levou umas piaba do noivo.
Essa parece ter sido a deixa para a cobertura ao vivo do negócio. Quer dizer, mais ou menos ao vivo, né? Afinal, era uma da manhã. Entrou a mesma repórter pelo telefone, passando ao mesmo tempo umas cenas do almoço-churrasco.
- Otávio, eu senti o clima ficando ruim naquele almoço.
Hã? O mesmo evento em que a Gretchen falou que o noivo era um enviado de Deus?
- Ele, como eu, também é evangélico - disse a cantora de "Freak le boom boom", referindo-se ao cara com uma tatuagem gigantesca e estranha.
Totalmente trash, totalmente "braaaiinss", aquele grito do mortos-vivos que devoravam cérebros, lembram? Alguns programas de TVs são como aqueles mortos-vivos, devoram aos poucos seu cérebro. Mas tenho que reconhecer que ontem o programa do Otávio Mesquita deu uma dentada das boas.