04 julho, 2002

A arte
Tenho lido algumas matérias (principalmente uma sobre os fissurados no assunto, da revista de Domingo no JB, e mesmo em alguns livros, e começo a me interessar ainda mais pelo tema: a Culinária.
Tenho em casa uma porrada de livros de receitas, alguns do Globo (aquele da Terra Nostra, etc), outros da minha mãe, e ainda conheço o extremo rock n roller Rodrigo Cobra, o homem que mais cozinha na face da terra. Isso tudo me leva a crer que a Culinária é definitivamente uma arte que eu preciso explorar mais.
Começo a pensar que acertar na feitura de um molho é quase a mesma coisa que pintar o azul certo no olho de um anjo na Capela Sistina.
Eu mesmo, nos tempos em que eu namorava, tinha essa mania de fazer altos rangos para as pobres moças que me acompanhavam. Com uma delas aprendi a fazer o macarrão "Hoje não, benhê", que consiste em uma receita à base de creme de leite, queijos diversos, tempero de ervas e bacon, se possível com linguiça calabresa. O casal devora um prato cada um e o sono se apossa de forma implacável, economizando assim calorias, dinheiro, esforço e provavelmente um par de camisinhas.
O que nenhuma delas entendia era porque eu fazia um prato soporífero exatamente nessas horas. E eu juro que não era desinteresse - acontecia, e pronto. Como quando levei uma namorada na Adega Flor de Coimbra, naquela ruazinha ao lado da Sala Cecília Meireles, na Lapa, e a moça deu um tremendo piti ao descobrir, escrito no cardápio: "Por favor, aqui é proibido beijar na boca".
Ela, quase tricando os dentes, "porra, por que a gente veio aqui?", e eu ria, achando que ela estava brincando, depois vi que ela ficou braba mesmo. Aí eu pensei, mas não falei, que nessas coisas de culinária, de amor e de outros demônios, é sempre bom que fique um pouco de fome.
Que a fome não seja dor, e sim desejo.