30 junho, 2002

É PEEEENNNNNNTAAAAAA!!!!!!
Como é bom ter orgulho de ser brasileiro! E como é bom ser pentacampeão do mundo, fazer o que ninguém pode fazer, colocar Novos Baianos para tocar "Brasil Pandeiro", imaginar os dribles dos Ronaldos, de Rivaldo, de Cafu, e cantar junto que o Tio Sam anda querendo conhecer a nossa batucada. Que lindo é Ronaldo roubando a bola, que lindo é Rivaldo chutando, e o Fenômeno nascido em Bento Ribeiro, mais um dos subúrbios que provavelmente hoje sofre com a violência, mas ver esse subúrbio explodir em felicidade ao ver um de seus filhos detonar a muralha ariana da raça pura alemã com um salto de oportunismo e brasilidade!
Não, não se trata de vingança de Terceiro Mundo ou revanche. Se trata de um pecado que só tem abaixo do equador, se trata de uma paixão, da felicidade de todo um povo, não de alienação. Alienação? Sim, que seja um ópio, delicioso ópio que não mata, que não faz mal à saúde mas que une ricos e favelados sem necessariamente ser um metrô lotado às seis da tarde. É um ópio que nos dá Rivaldo, Ronaldinho, Roque Júnior, Ronaldo Nazário, Roberto Carlos, que nos deu Romário. Até ele esteve nessa conquista, no bico de Ronaldo contra a Turquia. Explodindo corações até na distante Amazônia, fazendo vibrar o mais afastado dos vaqueiros nos pampas, acendendo luzes em favelas.
Como é bom ter orgulho de ser brasileiro! Rever mil vezes, sem se cansar, as cenas da Copa, ver Denílson perseguido pelos turcos, ver Ronaldinho Gaúcho entortando os ingleses, relembrar Roberto Carlos torpedeando chineses, vislumbrar mais uma vez Rivaldo disparando arte contra os belgas. Abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer - cantam os Novos Baianos, abre a porta e a janela, eu canto, chama teu vizinho, e o abraça dizendo que ele também é Pentacampeão. Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Vavá, Amarildo, Bellini, Mauro, Zito, Jairzinho, Gérson, Rivellino, Carlos Alberto, Romário, Bebeto, Dunga, Taffarel, Rivaldo, Ronaldo. Principalmente Ronaldo.
Como é bom ter orgulho de ser brasileiro e ter o artilheiro da Copa, Ronaldo, com oito gols, como é bom ter orgulho de ser brasileiro e poder dizer que Ronaldo protagonizou a maior volta por cima da história do futebol. Ora, mas que surpresa? Não é nosso o verso "levanta, sacode a poeira e dá volta por cima"? Pois foi isso que fez Ronaldo, e é isso que o brasileiro faz todos os dias. Só que não mostra pro mundo, porque o mundo não lhe dá atenção.
Ronaldo chamou a atenção do mundo, e mostrou o que a gente sempre quis mostrar - o levantar, o sacudir a poeira, o nosso dar a volta por cima. O mundo todo vê Ronaldo, o mundo todo lê Ronaldo nesse momento. O mundo todo sabe que o Fenômeno voltou para ganhar uma Copa para o Brasil.
Deus está olhando lá de cima: que domingo é esse em que só um pedaço da América do Sul que Eu fiz está pulando, sambando? Que segunda-feira é essa em que vários naquele pedaço estão vestidos de amarelo? Por que desde 1958 Eu já vi essa cena cinco vezes? Será que Eu sou brasileiro e não sabia?
Talvez Deus não saiba que é brasileiro mesmo - ditadura, miséria, violência urbana, Collor, inflação, FHC, tanta coisa errada. Talvez ele tenha até esquecido. Mas num rompante se lembrou, e descarregou a raiva pelo esquecimento toda em cima de Oliver Kahn, que soltou uma bola para o Fenômeno marcar e fazer Deus e todo o nosso povo esquecerem de novo por um instante tudo aquilo que há tantos anos dói no peito - e inclua-se junto àquelas coisas ruins também a derrota para a Itália em 1982 e as derrotas para a França em 1986 e 1998. Derrotas mentirosas, afinal, o Fenômeno mostrou a Verdade:
O mundo inteiro tem que aturar: o Brasil é Pentacampeão.