13 maio, 2002

Violência

Domingo levantei com o corpo meio mole, sonolento, indisposta. Não só por isso resolvi dar um mergulho. Também porque o dia estava bonito. E fui. Eram dez horas da manhã de domingo. Estava ansiosa para tocar o mar, andar um pouco, passear, ver a Pedra do Arpoador, notar um pouco de alegria. Saltei no Leblon e segui, pelo calçadão, para Ipanema. Na contramão de tudo o que eu estava pensando, literalmente na contramão, vinha a passeata "Paz é +", aquela anunciada por celebridades como Xuxa e Bambam, que não é o da Pedrita. Acho que era eu que ia na contramão, mas não importa.
Meu sentimento na hora: raiva. Comecei a andar rápido, queria sair logo dali, mas ao mesmo tempo uma curiosidade me manteve em linha reta, não me desviou para a areia, para o mar, para longe das mães de Ipanema, da Governadora Benedita da Silva, do drag queen dos patins, dos hare krishnas, do mar de pessoas bonitas, celebridades, ricas, bem vestidas, sorridentes, que pediam paz uniformizadas de camisa branca. Cheguei na Vieira Souto, e só lá reparei lençóis brancos pendurados nas varandas. Todos pedindo paz. Que bonito. Quis me emocionar. Quis estar imbuída desse sentimento tão nobre e caminhar pela orla de Ipanema com todos os outros. Mas não deu, não deu mesmo. Ando muito mau humorada e isso tudo, para mim, parece uma grande perda de tempo. Tanta que, na mesma hora, lá no Grajaú, um homem de bicicleta parou um senhor que estava na porta da casa da mãe e cravou-lhe três tiros na testa, dizendo: “pra você aprender a não ficar devendo a ninguém”. Não bastasse a violência do fato, a polícia deixou o corpo do “devedor” no meio da rua até às 19 horas. A essa hora, provavelmente, os participantes da passeata estavam em casa, de banhos tomados, sentados no sofá da sala com seus “filhotes” – é assim que eles chamam seus filhos, já os filhotes de cãezinhos de raça são chamados de “filhos”, vai explicar - assistindo o Faustão e satisfeitos por serem tão bonzinhos, enfrentarem aquele sol escaldante e andarem tanto, para pedir paz, distribuir chaveirinhos e blusas.
Sabe o que eu fiz? Fui tomar um sorvete enorme pra ver se ficava menos amarga.