12 maio, 2002

Tempos que (ainda bem) não voltam mais
Todo mundo acha ridículos os anos 60, com os hippies e o amor livre. Também rimos muitos dos anos 70 no That´s Seventies Show, e no geral das propagandas de cigarros mostrando roupas brancas e costeletas.
Mas vou te contar: os anos 80 são, de longe, os mais bizarros e sem rumo que existem. Comprovei isso vendo um dos filmes mais (hoje) engraçados de todos os tempos, no Canal Brasil: Bete Balanço.
A história não poderia ser pior: menina de voz horrenda (a Débora Bloch é uma graça, mas a voz...) sai do interior para viver "uma história de sucesso" na cidade grande. Daí para a frente é um monte de paradas bizarras, capazes de fazer até o Alexandrino, autor da genial série Cena do Dia no Canal 80, desligar a TV.
A Bete vai com o amigo gay - vivido por Diogo Vilella - até o estúdio do fotógrafo vivido pelo Lauro Corona. Detalhe é que ela e o fotõgrafo se conheceram da seguinte forma: "Ei, você viu o linchamento de um menor aqui nessa praça, preciso de você", diz o cara. A mina diz que sim.
EM 15 MINUTOS DE CONVERSA os dois convencem a Bete Balanço a posar pelada. Seguem fotos maravilhosas, claro, mas não dá para conter o riso quando aparece um close da Bete e de repente ela faz um "Uaurrr", como se fosse uma pantera ou uma gata ou sei lá o que ela estava imitando. Non sense puro.
Diogo Villela vai até um banheiro onde em cima da privada tem uma almofada com uma boca enorme. Como se isso não bastasse, o cara olha para um lado, olha para outro, e, como se fosse fazer a coisa mais furtiva do mundo, dá um beijo na tal boca.
No meio disso tudo, aparece uma cena estilo Broadway, com a Bete dançando no meio da rua com.....frentistas de um posto de gasolina Ipiranga!!!! Merchandising puro, e mais bizarro impossível. O genial roteirista ainda bolou uma cena em que o amigo gay da Bete tenta entrar no apartamento deles, bate na porta, mas como ela está trepando com o Lauro Corona, eles não respondem. O cara fica grilado e convoca o prédio todo para arrombar a porta, fazem um esporro memorável, e mesmo assim lá dentro eles continuam como Jon Voight e Jane Fonda em Amargo Regresso.
Quando um negão gigantesco consegue arrombar a porta, o prédio inteiro olha a cena: Bete Balanço praticando rodeio e o cavalo é o Corona. A reação dos dois? Pelados na frente de dezenas de pessoas, dão um sorrisinho, trocam um selinho e a cena acaba. Como se fosse a coisa mais natural do mundo.
A cena termina com o close do Diogo Villela sorrindo, naquele jeito de, "ehehehheh, essa Bete...fudendo na frente de todo mundo e não tá nem aí". Isso porque alguns minutos antes aparece o mesmo Diogo jogando PAC-MAN (totalmente fora do contexto) só para justificar uma música ridícula da trilha sonora que fala "videogame" o tempo todo.
Ainda tem cenas na praia com Cazuza, um caso inexplicável de amor da Bete com a Maria Zilda (personagem que some do filme sem mais sem menos), e uma história paralela do Lauro Corona querendo "fazer Justiça" como o fotõgrafo solitário que registrou um linchamento.
Bons tempos que, graças a Deus, não voltam mais. Daqueles anos, já basta minha coletânea dos Smiths.