Ano Novo
A noite estava agradável e não só por isso abusaram do álcool e dos carinhos. O dia amanheceu e os dois ainda estavam sentados no chão da sala, ouvindo música. Acordaram no meio da tarde do último dia do ano, ressacados. Sentiram-se atrasados para aquele derradeiro dia. Procuraram suas melhores roupas e logo estavam caminhando pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Eu mesma os vi passando, desleixados; ele vestindo um macacão jenas rasgado e puído, já quase branco de tão velho, peito nu, e ela com um vestido colorido, de chinelos havaina, pareciam um casal hippie. Ainda a ouvi pedindo "anda devagar, estou cansada", mas ele não diminuiu o passo. "Assim a gente pode se perder, olhe quanta gente", ela alertou. Ela estava lenta. Dito isto, é redundante dizer que, de fato, se perderam.
Uma hora depois da meia-noite, dos fogos estourados, da cascata do Meridièn detonada, dos pés molhados nas águas do mar, das flores serem lançadas para Iemanjá, dos shows de músicos populares iniciarem, dos champagnes estarems estourados, só depois, encontraram-se numa banca de jornal da Avenida Prado Júnior, comprando cigarros. Abraçaram-se, pegaram-se, soltaram palavrões para valorizar o reencontro e foi tão bom que decidiram nunca usar aparelhos de telefone celular.
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