09 maio, 2002

Os melhores LPs da minha juventude
Tatto You - Rolling Stones
Depois de abordar Sticky Fingers (Stones), Peter Frampton, Tapestry (Carole King) e The Wall (Pink Floyd), é quase obrigatório relembrar este espetacular LP dos Rolling Stones lançado aqui no Brasil alguns meses antes de Paolo Rossi nos fazer chorar.
Eu tinha meus doze, treze anos, ainda tinha pai - e este ouvia de tudo, de Procol Harum (A whiter shade of pale) a Neil Diamond. Um sujeito de doze anos de idade, com pai que compra discos do Neil Diamond ("Johnathan Livingston Seagull"), só pode ser um mercado em potencial para as bandas de rock and roll.
E eu lhes garanto: nos idos de 1981, nada, mas nada foi tão rock and roll quanto os Rolling Stones. Com o Tatto You, Jagger & Richards anteciparam em 20 anos o desmentido patético do punk rock, que naquela época tentava chamar de Dinossauros tudo que emplacava um hit por ano. Anos depois, os bostinhas devem ter se sentido mal quando Lydon e toda a troupe admitiram abertamente que aquilo tudo era mais cena de Malcolm McLaren do que qualquer outra coisa. Devem ter se sentido mal todos aqueles que se recusaram a curtir o Tatto You porque a onda punk não permitia. Tempos parecidos com os de hoje, mas deixem para lá.
Me lembro que a única festa boa que dei na minha própria casa teve seu momento de enlouquecimento exatamente em "Start me up", primeira do disco, um hit que já dura vinte e dois anos e neguinho até hoje dança como se tivesse sido lançado na semana passada. Os três acordes ficaram na cabeça de todos aqueles garotos virgens de doze anos mas que adoravam o refrão "ooooh, you make a grown man cry, you make a grown man cry".
Logo depois, Charlie Watts entrava rasgando com os acordes da deliciosa Hang Fire, uma coisa que nos anos 90 teria sido definida como rockabilly grunge. Hang Fire é curtinha, pois logo a seguir, se não me falha a memória, entra a sensacional Llittle T & A, cantada por Keith Richards, magistral. Anos depois que me liguei na gíria, T & A, Tits & Ass, ou seja, "minha pequena Peito e Bunda". Os Stones são o Genival Lacerda com chá das cinco.
O riff de Slave inundava o quarto de todo mundo, e se gritava muito "Don´t wanna be a slave". Ilusão pura....O lado A seguia com o belíssimo blues barulhento Black Limousine e se consolidava com "Neighbors", uma ode aos adolescentes furiosos de hormônios incontroláveis que insistiam em atormentar - e serem atormentados por - seus vizinhos.
Um lado A tão apocalíptico tinha que dar vez a um descanso. E no outro lado lá estavam músicas suaves, baladas, todas com arranjos deliciosos. "Worried about you", "Tops", "Heaven", a bobdylaniana "No use in crying" e finalmente "Waiting on a friend", uma canção simplesmente inigualável sobre tolerância, amor, companheirismo, cumplicidade entre homem e mulher e toda essa espécie de coisas. O clipe, quem não conhece? Jagger está à porta de um prédio velho em NY, negros em volta rindo, pinta Keith Richards, se cumprimentam e vão beber algo.
Ver aquela cena tão batida e frugal toma uma outra dimensão quando se está ouvindo "Waiting on a friend", e tudo aquilo ali parece uma confissão de um amigo seu, alguém querendo uma amiga, alguém querendo outro alguém para chorar por, alguém para proteger.
Acima de tudo, a canção fala sobre uma maturidade que o coração de todos sempre escondeu - "making love and breaking hearts/it is a game for youth/i am not waiting on a lady/i am just waiting on a friend".
Assim se encerrava então um grande disco, o Tatto You, ensinando algo que eu só aprenderia da forma mais difícil - sim, teria sido mais fácil, bastava a música, quando se quer ouvir, quando se quer aprender.
Bom, pelo menos aprendi que música é a nossa mágica mais freqüente e importante.
Waiting on a friend
(Jagger-Richards)
Watching girls go passing by
It ain't the latest thing
I'm just standing in a doorway
I'm just trying to make some sense
Out of these girls go passing by
The tales they tell of men
I'm not waiting on a lady
I'm just waiting on a friend
A smile relieves a heart that grieves
Remember what I said
I'm not waiting on a lady
I'm just waiting on a friend
I'm just waiting on a friend

Don't need a whore
I don't need no booze
Don't need a virgin priest
But I need someone I can cry to
I need someone to protect
Making love and breaking hearts
It is a game for youth
But I'm not waiting on a lady
I'm just waiting on a friend