08 abril, 2002

Reconhecendo a crise
Não, não é para falar da crise rubro-negra - até porque acredito que não adianta, pois com a administração Edmundo Santos Silva a minha previsão, infelizmente, é de o Flamengo acabar até o fim deste ano. Inclusive já passei a torcer contra o Flamengo (assistindo o jogo não dá para torcer, mas racionalmente é melhor) para ver se esse senhor é expulso a pontapés do clube o mais breve possível.
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A crise de que falo é outra. Sábado fui conhecer a nova casa administrada pelo pessoal da Matriz (local, por sinal, onde pelo jeito eu não devo mais colocar som), a Moog. Fica na Rua Visconde de Caravelas, ao lado do restaurante Botequim, um dos mais conhecidos daquela área. A Moog tem varanda com mesas na entrada, ambiente de restaurante no térreo, com ar condicionado, drinques bacanas, American Bar. No segundo andar, outro American Bar, com uma sala que os muderninhos chamam de "lounge" (almofadas, sofás, etc, aquilo que quando eu estudava Desenho de Arquitetura eu escrevia "living"), muito bacana, temperatura boa, até por causa da chegada do outono. Poucas opções - por enquanto - no cardápio, mas o que tem é muito bem feito. O ambiente todo é limpíssimo, bem ornamentado, enfim, um bom lugar para sair. Mas então, qual é a crise?
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A crise é que eu estava achando tudo, absolutamente tudo, uma grande merda. Tá certo que cheguei lá um pouco alto, depois de detonar umas seis doses de vodka pura na casa de um amigo meu. Tá certo também que desci garganta abaixo três Margueritas Blue Curaçao (esta última uma bebida recomendada por aquele senhor de tridente e cavanhaque).
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Mas o fato é que não consegui me divertir, ou achar algo bom. Os motivos são diversos. Por exemplo, o fato de só ter gente bonita e eu não me sentir muito incluído dentro deste grupo social pode ter me deixado deslocado. A música também não ajudou. Música até boa, mas faltava sentimento, faltava gente cantando junto, bateria, baixo, sei lá. Faltou também alegria de gente se encontrando - não conhecia simplesmente ninguém lá, a não ser meu camarada Sérgio Maggi, que foi testemunha da minha trip, a Roberta, com quem nem pude falar muito por causa do meu estado alucinatório e mais o Guilherme Valente e a Vanessa Teixeira.
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São boas pessoas, mas ainda não as conheço tão bem, não posso deixar de dizer. Das pessoas que eu conhecia, praticamente todas sumiram, encontraram seu caminho. As meninas mal-resolvidas que bebiam conosco resolveram seus problemas, cada qual arrumando um rapaz que resolvesse (é o tempo que dura a companhia de meninas mal-resolvidas). Alguns amigos do tempo mais rock´n roll casaram, ou estão namorando. Um retrato de que os tempos estão mudando - um retrato feliz - é o fato de uma das nossas amigas mais manguaceiras hoje estar curtindo a filha recém-nascida, ao lado de um marido bacana.
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Só que, como eterno adolescente que sou, sinto falta de expectativa, de coisas acontecendo, de produzir algo, sinto falta da eterna arte do encontro. Preciso de música que emocione, de final de filme que faz chorar, de sentir ciúme, de ir para casa magoado depois de beber um uísque no Cervantes, de ligar para minha ex-namorada bêbado de madrugada, enfim, de viver uma vida mais rock´n roll. Estar ao lado de quem, pelo menos, não queira pensar em limites. Por um só dia, não pensar no amanhã - como todos nós passamos a fazer depois que resolvemos inconscientemente liqüidar o nosso presente.
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Sobre a crise rubro-negra, uma última palavra: se meu time estivesse bem, eu não estaria chato assim. Uma boa tarde de Maracanã pode fazer milagres com os quadros mais depressivos.