Os filhos do silêncio
Matéria na Veja desta semana sobre um casal de lésbicas que recorreu à fertilização in vitro para ter bebês surdos como elas me assustou. "Em lugar de neném de olhos claros ou superinteligentes, elas procuraram gerar um filho surdo", dizia a reportagem. Ambas estão na casa dos 30 e têm uma outra filha gerada do mesmo modo. Não sei se me assustou porque estou na crise dos trinta - andei pensando em gravidez, filho e na vida que vai passando - ou se é porque eu tenho deficiência auditiva no ouvido esquerdo (deficiência auditiva é muito melhor do que eu assumir que sou surda). Ou se pelos dois. O fato é que acho estranho imaginar que se escolhe quais as características do filho que vai nascer. Ainda mais, escolher que ele nasça surdo.
Bom, eu, Alessandra, não faria. Considero de uma vaidade extrema. Egoísmo maléfico.
Ainda segundo a matéria, normalmente uma em cada 2000 crianças nasce com problemas de surdez. E mais: informa que nos Estados Unidos, país de loucos por excelência, os surdos desenvolveram um conceito de que a surdez não é uma deficiência médica, transformando-a, assim, num conceito cultural. Valem-se, para tanto, da linguagem própria de sinais e se isolam cada vez mais. Me dá vontade de fazer um discurso. Calma, foi só um impulso. Por essas e por outras é que eu acho que a Roberta tem razão, o mundo é mesmo estranho.
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