18 abril, 2002

Na hora do almoço

Trabalhar no Centro da cidade é estressante. Temos burburinho, uma multidão que não anda, mas atropela, motoristas de ônibus com pés de chumbo e guardas enlouquecidos apitando compulsivamente. Fora os ladrões que “batem” carteiras, telefones celulares de quem os prende na cintura, relógios e outros objetos de fácil apreensão e atravessam a rua correndo por entre os carros com o sinal aberto e chegam ao outro lado sem um arranhão sequer. Sem falar no calor, nas filas dos restaurantes e na volta tumultuada pra casa. E também nos guardas municipais reprimindo camelôs e promovendo o quebra-quebra habitual.
Mesmo com tudo isso, trabalhar no Centro tem as suas vantagens. A hora do almoço, por exemplo, é demais. Todos sem hierarquia, andando pela Avenida. Presidente de empresa, boy, secretária e advogado se esbarrando, entrando em caixa eletrônico, comendo sanduba com suco de morango na esquina. Onde eu quero chegar? Ah, sim, no inusitado. Aqui, parece que estamos dentro de uma veia. E deve ser verdade. Hoje, às 13h, um homem de óculos, calça jeans e camisa social “vestia” uma placa amarela, semelhante a dos caras que compram e vendem ouro, com letras imensas onde se lia:

“Estou desempregado mas não desisto!
Procuro emprego nas áreas de venda, jornalismo,
filmagem, fotografia ou publicidade.
Telefone: 2287-6977”.

Outro dia era um outro cara, todo acorrentado, em frente ao Edifício Avenida Central, gritando que estava desempregado, pelo amor de deus, que o ajudassem, ele só queria trabalhar.

Será que ainda piora?