16 abril, 2002

Muito estranhos

Não que fosse alegre, mas tudo em sua vida era colorido. Roupas, sapatos e fotografias. Vermelho-vivo. Queria abraçar o vermelho e o vivo. Rasgou com uma lâmina o pulso e admirou com tanto amor aquela cor forte esvaindo vida que sequer pensou no fim.

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Saltaram do carro juntos. Ele usava um lenço verde na cabeça. Se abraçaram sem perceber presença estranha na noite. Comentaram sobre a insossa comida que jantaram. Insossas as pessoas, também. Abraçaram-se com força no elevador. “Alguém diria, vendo essa cena, que entre dois homens não existe amor?”, pensaram.

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Queria mudanças. Pensou em ir para a Áustria. Talvez a Grécia. Sonhou com a China, mas não sabendo chinês, desistiu. Ela não se despediu de ninguém. Fez as malas secretamente, ninguém sabe para onde foi. Tempos depois, soube-se que a única transformação efetiva em sua vida foi pintar o cabelo de vermelho.