17 abril, 2002

Não vou na galeria do Rock
A rivalidade e o preconceito são antigos. Cariocas e paulistas nascem pensando que não foram feitos para se entenderem. Curiosamente, no futebol, eu e qualquer torcedor carioca normal sentimos muito mais raiva de ver o time perder para um vizinho de São Januário ou das Laranjeiras do que de assistir uma goleada sofrida para Palmeiras e Corinthians.
Ou seja, há possibilidade de armistício. Diferentemente de ingleses e escoceses, ingleses e irlandeses, irlandeses e escoceses e ainda ingleses e franceses.
Eu briguei com São Paulo no dia em que fui de carro de reportagem. Eu trabalhava em um conhecido jornal popular (um dos lugares onde mais é praticado o assédio moral) e recebi a nobre incumbência de cobrir o seqüestro da QUASE loura do tchan. Sim, a mulher tinha tirado terceiro, virado dançarina de um grupo chamado Axé Blond e tinha sido seqüestrado por bandidos de Santo André. Ou seria de Guarulhos? Sei lá. Só sei que quando cheguei a São Paulo a mulher já tinha sido libertada.
Rodei pela cidade buscando informações. Ia na delegacia onde ficavam os presos sob custódia e ia na delegacia onde ficava a equipe que prendeu os caras. Cada ida e vinda dessas parecia implicar na quilometragem de um ônibus da Rio-Bahia.
Descobri naquele dia que São Paulo era como a Estrela da Morte. Em Guerra nas Estrelas, Luke Skywalker tem que acertar com um só tiro, com ajuda da Força, o buraquinho da Estrela que a destrói (buraquinho da Estrela ficou parecendo nome de brinquedo pedófilo). Quando erra, ele tem que dar a volta na Estrela da Morte inteira. Era o que acontecia com a gente. Errávamos uma entrada da Marginal e tínhamos que dar a volta em São Paulo procurando o retorno.
Mas eu voltei a São Paulo depois disso, um ano depois, e sem ser a trabalho. E fiz as pazes com a cidade, iniciando uma grande amizade. Me lembro que peguei na mão da cidade e a pedi em namoro no dia em que, partindo de uma estação no centro mais baixo da cidade, fui até a Estação Masp/Trianon do Metrô. Emergi na Avenida Paulista descansada, por volta das oito da noite, as pessoas começando a buscar seus bares, suas amizades. Um frio sutil deixava todo mundo de bom humor (diferente do calor senegalês que só a Roberta adora).
Fui então no bar Opção, e o índice de felicidade extrapolava. Mulheres maravilhosas circulando, telões, pessoas com roupas sóbrias, tira-gostos espetaculares, cerveja em garrafa geladíssima na mesa.
Naquela mesma época eu já travava conhecimentos com Inagaki, Andrea Del Fuego, Moniquinha, Ian Black, a turma toda. Depois conheci Ione. Ou não.
Depois me enturmei com o pessoal do Lance-SP. E conheci mais gente ainda. Enfim, muitos, hoje em dia nem sei onde ir primeiro.
Só sei que não vou na Galeria do Rock. Na primeira e única vez que fui, quase deixei as calças. Assim o namoro fica caro demais.