Jogando a merda no ventilador
Não adianta eu dizer que eu senti uma repulsa rascante e quis desligar a televisão. Movida por uma curiosidade mórbida a mantive ligada enquanto escrevia, apressadamente, algumas impressões. A voz do sujeito chamado André (belo nome para alguém tão feio), me irritava. Não só a voz. O jeito, o olhar esnobe, a língua presa, o papel de bom moço-excluído-homossexual-rotulado. E o gosto do público por ele. Foi então que eu descobri porque não desliguei a televisão. Porque havia um baiano que falava com inteligência, educação e sentimento, ainda que este fosse a raiva. O baiano, de todos, parecia o único autêntico na sua antipatia. Por isso, me pareceu simpático. Porque dizia com todas as letras o que bem queria. Conseguiu chamar o ganhador de “jeca” sem ofendê-lo e sem que isto o desmerecesse. Não o acompanhei por todo o programa, mas nas poucas vezes em que o vi “atuando”, achei-o um pouco “ovelha negra” na turma.
A discussão parece inútil, mas não é. Somos impotentes e a única opção é mesmo comentar sobre o assunto, esgotá-lo, espalhá-lo aos quatro cantos, pôr a merda no ventilador, sufocar, até que ninguém suporte mais enterre esse negócio numa fita de gravação para ser reprisado daqui a muitos anos por um “Vídeo Show” da época como uma lembrança do tempo em que gostava-se de “reality shows’.
E morre o assunto aqui, pois os desdobramentos do que poderá vir no futuro traz pessimismo. E não quero que isso faça parte de mim.
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