12 dezembro, 2003

A nova economia dos mendigos ricos
Quem trabalha no meu emprego anterior, já sabe: devido à localização um tanto dantesca, na Cidade Nova, as opções de alimentação e hidratação são diminutas, quase todas envolvendo entregadores e certa demora. Em se tratando de alimentação saudável e de baixa caloria, pode-se dizer que a Cidade Nova é um deserto: os principais entregadores por lá são os da Domino's, do McDonald's e do Bob's. Os apóstofes não mentem jamais - querem dizer que o dinheiro é deles, do Domino, do Mcdonald e do Bob, mas a gordura é sua. E você sua para perder, como eu suei e ainda estou suando.
Diante desse quadro, prevalecem máquinas diabólicas, que já se espalharam por toda a cidade, tanto as de refrigerantes quanto as de doces. No meu novo emprego tem de doces e de café (note-se: nenhum com adoçante).
Mas o assunto aqui é o seguinte: o quanto será que deixa de circular pela economia só porque o consumidor não possui notas de um real novas? Alguém já parou para medir? Joelmir Beting tem números?
Sim, a modernidade das máquinas no lugar de pessoas faz isso. Um simples caboclo qualquer aceitando moedinhas velhas ou notas semi-rasgadas, trocando dinheiro, pelo menos estaria empregado e ao mesmo tempo permitindo que não passássemos parte do nosso dia perguntando "Quem troca cinco por nota de um real?" ou "Quem troca essa velha por uma nova?".
A mim, às vezes parece mendicância. Eu mesmo já pratiquei a mendicância - a comida chega de entregador, e você deixa de pedir coca-cola porque ela chega quente. Aí, na hora do rango, cadê a moedinha ou nota nova?
Engraçado que isso cria hábitos. Entre dar sete reais trocados pro taxista e dar notas de dez, você dá nota de dez, porque assim, "ganha três reais" na nova economia. Ora, que diabos! Na nova economia, ter uma nota de dez reais equivale a não ter porra nenhuma!
Vejo várias vezes nas estações do Metrô o mesmo drama acontecendo. Neguinho voltando com a nota velha na mão, com aquela cara de otário - seu dinheiro foi rejeitado. Aí, toca a pedir pro amigo do lado uma nota novinha. Caceta, igualzinho, mas igualzinho a um mendigo.
Isso tudo aí sem contar o lucro exorbitante de quem vende um Galak pequeno por UM REAL. Mas beleza. Queria só saber isso - quanto neguinho deixa de gastar porque não tem nota nova no bolso. Acho que deve ser uma grana que faz falta no PIB.
Quanto sumirem os novos mendigos ricos, acho que começa o tal espetáculo do crescimento.