Globalização é isso aí
Eu voltava da Câmara dos Vereadores, a pé, claro, porque no Centro não se anda de carro, principalmente quando se está com pressa. Pois eu voltava, e a passos largos - pulmões que não fumam, fígados que não bebem, barrigas que não pesam aguentam passos muito largos - quando de repente tive que parar, em frente àquela banca quase na Rua da Carioca com Sete de Setembro.
Uma banca enorme, com uma porrada de produtos (CDs, DVDs, VHS, revistas, livros velhos, doces, balas, e sei lá mais o quê), uma TV ligada a um baita som. Em volta, cinco sujeitos de uns 50 a 60 anos, estragados pela vida e pela falta de dinheiro. Todos tinham crânios de nordestinos e peles cafuzas.
Eles olhavam para a tela fascinados, qual macacos olhando para um obelisco em filme de Kubrick.
Aí eu me liguei no som e olhei para a tela para ter certeza do que estava provocando aquela catarse em cinco paraíbas velhos às cinco da tarde em pleno Largo da Carioca sob um sol de 41 graus:
Joe Cocker, ali por 1972, cantando "Something".
O momento é indescritível - era como se os cinco paraíbas não estivessem ali, mas Joe Cocker estivesse.
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