23 março, 2003

Troco carta, pego meus sete exércitos da Ásia, coloco dois na Oceania e vou três contra dois na Polônia Iugoslávia
Continuando minha série War, estava vendo outra noite dessas na Globonews matéria sobre manifestações em Londres. Pois é, o pacifismo sempre é meio tachado como coisa de alienado, "gente que não entende o que está por trás da política internacional", etc. Bom, tudo bem. Mas e o que dizer dos 'Fãs de B-52´s"?
Não me refiro à bizarra banda americana de new wave, e sim a fãs do avião bombardeiro de B-52´s. Eles existem, são organizados e pararam para assistir ao bombardeio anglo-americano sobre Bagdá, com a curiosidade de fãs, torcendo e admirando os "feitos" do seu aviãozinho preferido.
O que dizer de gente que se empolga com uma máquina voadora destruindo patrimônio alheio? Bom, eu não sei. Saberia o que fazer com sujeitos assim, mas não sei mesmo o que dizer para eles.
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Continuo sem lembrar quem disse a frase "Em uma guerra, a primeira vítima fatal é a verdade". Churchill? Roosevelt? McArthur? De Gaulle? É duro não ser culto, letrado.
Mas é uma frase irreprensível.
Afinal, um jornalista decente, da ABC, teve o bom senso de desmascarar a farsa montada pelas imagens da CNN e de outras emissoras ocidentais - e obviamente adotada pelas nossas TVs - na qual os iraquianos recebiam felizes, às lágrimas, os soldados americanos.
Maquiavelice e velhacaria maior, difícil imaginar.
Segundo o jornalista da ABC, as imagens são no mínimo "estranhas". Além dos soldados serem recebidos pelos civis iraquianos sempre de maneira hostil, até os jornalistas, habitualmente vistos como neutros em zonas de conflito, têm sido maltratados, xingados.
Aí aparecem imagens do povo iraquiano cumprimentando os soldados e parece que os EUA estão livrando o mundo de um grande ditador. Tudo cascata.
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Sim, os americanos devem mesmo amar o povo iraquiano. Não poderiam permitir que esse povo tão amado continuasse subjugado pela ditadura de Hussein.
Eles só não ajudaram chilenos, peruanos, argentinos, bolivianos e brasileiros durante suas ditaduras porque estavam ocupados em um fliperama no Vietnã. No qual, aliás, perderam algumas fichas e saíram depois do tilt.
Hã? Que foi isso? Pensei ter ouvido alguém dizer que, além de não terem ajudados os povos sul-americanos a lutar contra suas ditaduras, ainda ajudaram a implantar algumas...Não, não ouvi isso....
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A porradaria pode ficar generalizada se forem confirmadas as informações de que os turcos estão aproveitando a bagunça para invadir o Iraque pelo lado deles. Aí vai dar uma merda federal. Neste sábado, o governo turco já "expeliu" uma nota negando tudo.
Em guerra, quando emitem nota negando, é bom correr atrás, porque nem tudo é verdade, nem tudo é mentira.
O lado do Iraque que cola na Turquia é habitado por curdos. Claro, os curdos são numerosos - e dentro da própria Turquia há hoje mais de dois milhões de curdos.
Desnecessário se esforçar para adivinhar o que pode acontecer se os turcos se meterem a engraçadinhos.
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No quarto dia de guerra, explodiram diversas manifestações - nem sempre pacíficas - no mundo árabe. No pequenino Bahrein, dez pessoas ficaram feridas por guardas que protegiam a embaixada americana.
Faço duas perguntas:
1- Essas pessoas feridas podem processar os EUA por dano material e moral?
2- Se os americanos podem mandar as Filipinas expulsar os diplomatas iraquianos, por que os bahreinenses (irc...) não podiam resolver expulsar os diplomatas americanos?
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O levante do mundo árabe tende a crescer muito. Vale lembrar que são um povo que exalta seus mortos, e não apenas chora por eles - como fez o pai de um dos soldados americanos mortos no acidente de helicóptero. Aliás, foi acidente mesmo?
A verdade já deve estar morta, estuprada e enterrada nessa guerra. Acho que na verdade NUNCA vamos saber o que está realmente acontecendo.
É sinistro, mas terrivelmente possível.