24 fevereiro, 2003

Rio, cidade morta
Ontem mesmo, ao telefone, conversava com Marcele sobre a mais nova moda do crime: os arrastões em ônibus. E comentei com ela, "pois é, o Rio acabou, tornou-se inviável, já era". Mais tarde, passando de táxi na Avenida Atlântica por volta de meia-noite, indo da livraria Letras & Expressões ao Cervantes, vimos a lua brilhando, meio avermelhada, sobre a praia de Copacabana. Eu disse, "isso aqui é bonito demais, pena que acabou, agora é dos bandidos, mendigos, travestis". Nada mais verdadeiro - se você acha que não, experimenta passear a pé no calçadão depois das 20h.
O Rio realmente acabou. Continua lindo, mas um lindo cadáver. Se você não mora aqui e ouve sempre falar, nunca veio, e sonha vir conhecer, esquece. Sério mesmo, esquece. É dificílimo um lugar onde você não seja assaltado, atacado, achacado, corrompido, pressionado. Todos em volta parecem querer seu dinheiro: assaltantes, pedintes, mulheres que usam criança no colo, pivetes, camelôs e até mesmo policiais. Por isso, você de fora, não venha ao Rio. É perigoso mesmo.
Você acha que estou sendo fatalista? Bom, então pensa o seguinte: o que ajuda a evitar que pessoas se tornem criminosas? Emprego e salário. Oito anos de FHC ajudaram a acabar com o primeiro item. O segundo, bom, se eu que sou jornalista já não recebo um salário interessante desde abril de 2001, imagine quem é balconista (não que eu ache a primeira profissão mais digna que a segunda).
Aí vêm os seqüestros e ajudam a afastar o empresário que, se não gera salário, pelo menos gera emprego. Lembrem bem, muita gente já deixou de se instalar aqui, apesar do propagado crescimento da indústria fluminense (crescimento no qual eu me recuso a acreditar) nos últimos cinco anos. Junto com os seqüestros, a insegurança, a violência, o desemprego. E para arrematar de vez, vem a governadora e AUMENTA O ICMS! Sério! Aumenta o imposto que em diversos outros estados vem sendo reduzido - alguns dão até isenção temporária para atrair empresas.
Tudo para arrecadar verba que, se não for para colocar na Suíça, no mínimo é para políticas assistencialistas/paternalistas.
Sim, o Rio de Janeiro acabou. A população criminosa está finalmente alcançando a não-criminosa em termos de números. Logo seremos meio a meio.
Alguém ainda duvida? Então é só dar uma olhada em O GLOBO. Clica no nome do jornal, por favor. E lamente comigo: obrigado Brizola, Moreira Franco, Marcello Alencar, Garotinho, Benedita. Obrigado FHC, Itamar, Sarney. Vocês conseguiram destruir o que somente Deus poderia ter criado, que é essa cidade aqui.