09 abril, 2002

Rápido(a)s e Rasteiro(a)s (?)

Depois da série Encontros & Desencontros estagnei a produção de histórias curtas que pudessem ser publicadas aqui. Mas tenho outros casos de amores, ódios, risos etc. para contar, então, resolvi escrevê-los com novo título, ainda a ser escolhido, talvez “ Rápidos & Rasteiros”, para continuar no antigo clima. A partir de agora, também, passo a adotar o pronome pessoal da 1ª pessoa do singular para alguns contos, para diversificar do “ele” e “ela”, porque detesto nomear personagens.

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Brigamos. Abri o vidro do carro, fechei os olhos, era madrugada. Senti a brisa da beira da praia. Estava triste e pensei em três coisas para dizer a ele, naquela hora. Três adjetivos sempre soam fortes. Ele ficou calado, impassível como o Mohamed Ali da música de Caetano Veloso que o taxista ouvia. Subimos mudos no elevador. Dormimos separados. A porta de entrada do apartamento passou a noite aberta e foi por ela que eu saí sem me despedir quando acordei, ao amanhecer, com as buzinas incessantes de uma metrópole caótica começando a se movimentar numa segunda-feira. Monte de vultos e motores cortaram meus pensamentos, mas por maior esforço que eu fizesse a única coisa em que conseguia me concentrar era numa resposta para a pergunta “você acha que eu sou bobo?”.
Mesmo achando-o, eu negaria.