10 abril, 2002

Goodbye blue sky
Um hábito que também está voltando para mim: chegar da rua de madrugada e ligar o headphone sem fio para me deitar em uma música qualquer. Na noite de segunda-feira foi o LP "The Wall", do Pink Floyd, que em breve será abordado na série "Os melhores LPs da minha juventude".
É impressionante, ouvir em um bom estéreo, com clareza, sem nenhum ruído atrapalhando, a ópera da depressão que é o The Wall. Mas não é uma depressão qualquer, de maníaco. O Pink Floyd parece ser a única banda que chegou ao âmago das questões que surgem com o passar do tempo, os anseios, as inseguranças, tanto em âmbito pessoal como no âmbito de existência do próprio planeta.
Até hoje eu engulo em seco ao ouvir os versos finais de "Time", do disco "The dark side of the moon": Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain/You are young and life is long and there is time to kill today/And then one day you find that ten years have got behind you/No one told you when to run, you missed the starting gun. A angústia de Gilmour na hora em que diz que "ninguém lhe avisou quando correr, você perdeu o tiro da partida" é de doer na alma.
Mas o The Wall é barra mais pesada ainda. Para mim, basta o violão inicial de "Goodbye blue sky" e a entrada dos teclados para eu sentir um medo quase visceral. "Did you see the frightened ones? Did you hear the falling bombs? Did you ever wonder why we had to run for shelter when the promise of a brave new world unfurled beneath a clear blue sky?".
Dá para somar Kypling com Sartre (nunca li porra nenhuma dos dois): "A náusea, o horror, a náusea, o horror".