19 novembro, 2001

Da série interminável Encontros & Desencontros

Eles se reencontraram após cinco meses, pela terceira vez, numa festa de amigos em comum. Ela andou naturalmente pelo salão com seu vestido longo e preto e talvez soubesse que estava fazendo charme. Ele chamou-a; acendeu um cigarro. Beberam juntos. Conversaram animados, mas não disfarçaram seus pensamentos difusos e tristes. Ela observava, sorridente, as pessoas dançando; ele olhava desconfiado sua personalidade fugidia. Ele não queria pensar na palavra fugidia. Nem ela. Mas a palavra era real e dominante. Ela escapava dos seus olhares, não queria amar nem ser amada. Ela quis dizer, "muito papel e lágrima já gastei, em vão, por amores inóspitos". A sensação real de não sentir mais nada por ninguém a angustiava. Há um ano aguardava o retorno de alguém que não voltaria. Às vezes, a carência pedia colo e cuidado. Então, esquivava-se. A noite acabou chuvosa para ambos, cada um em seu quarto mal iluminado, enfrentando sem resistência uma insônia ébria e esfumaçada. Melhor assim, ela pensou. Morfeu é brega. E dormiu.