Da série interminável Encontros & Desencontros
Eles se reencontraram após cinco meses, pela terceira vez, numa festa de amigos em comum.  Ela andou naturalmente pelo salão com seu vestido longo e preto e talvez soubesse que estava fazendo charme.  Ele chamou-a; acendeu um cigarro.  Beberam juntos.  Conversaram animados, mas não disfarçaram seus pensamentos difusos e tristes.  Ela observava, sorridente, as pessoas dançando; ele olhava desconfiado sua personalidade fugidia.  Ele não queria pensar na palavra fugidia.  Nem ela.  Mas a palavra era real e dominante.  Ela escapava dos seus olhares, não queria amar nem ser amada.  Ela quis dizer, "muito papel e lágrima já gastei, em vão, por amores inóspitos".  A sensação real de não sentir mais nada por ninguém a angustiava.  Há um ano aguardava o retorno de alguém que não voltaria. Às vezes, a carência pedia colo e cuidado.  Então, esquivava-se.  A noite acabou chuvosa para ambos, cada um em seu quarto mal iluminado, enfrentando sem resistência uma insônia ébria e esfumaçada.  Melhor assim, ela pensou.  Morfeu é brega.  E dormiu.
    

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