11 abril, 2003

Operários e priápicos
Dentro do ônibus, parado ali na Praia de Botafogo, voltando cansado e suado do trabalho. Aí a cena: o ônibus em que estou está "deitando", ou seja, dando aquela enrolada tranqüila para chegar no horário que interessa ao motorista - e foda-se se você é passageiro e está louco para chegar no trabalho após um dia infernal. Foda-se.
Mas aí pinta o diálogo do motorista com o trocador, que desceu para comprar um cachorro-quente.
- Mas e aí, a mulé?
- Ah, sei lá da mulé, porra!
- Porra, mas a mulé, caraio!?
- A mulé, caraio, sei lá, vacilô
Depois de uns cinco minutos entendi que o trocador apresentou uma mulher pro motorista comer e ele não comeu. Beleza, isso acontece. Só que aí cheguei à conclusão de que ou a mulher brasileira realmente tem uma preferência pelo tipo bruto (antes que falem, a minha não, porra) ou - versão mais plausível - todo sujeito da classe proletária (na qual me incluo como jornalista mal pago) é cascateiro.
Sim, porque até hoje, seguramente em 85% dos táxis que peguei sozinho o motorista tinha acabado de comer ou iria comer "uma mulher muito gostosa". Mas com absoluta certeza.
Teve um que me levava em silêncio, eu sem saco no banco de trás, saindo do trabalho. Começou a tocar uma música que acho muito merda, "Maré", do Jorge Vercillo. Muito, mas MUITO merda.
O cara, que estava COMPLETAMENTE calado, fala, DO NADA:
- Olha essa música.
Procurei, mas não achei nada, mas continuou tocando, o cara seguiu, teve que fazer umas manobras e se distraiu. Mas quinhentos metros depois, música ainda rolando, voltou:
- Porra, sacumé? Essa música aí é de uma mina, a gente tem um lance, ela é casada. Eu também sou, tá, mas porra, a gente tava meio brigado e voltamos com essa música.
Pensei: caralho, existe ser mais corno no mundo do que o marido da tal mina? O cara perde a mulher para um taxista IGUAL ao Paulo Silvino (só que de cavanhaque), e esse ainda fica com a mulher ao som da música "Maré", de Jorge Vercillo.
Pano rapidinho aê.
Outro dia, peguei táxi no jornal, no meio do silêncio, encaixou, sei lá como, a conversa:
- Porra, eu tô comendo uma mina que mora com outras duas gostosas.
- (...)
- Sou louco pra comer a irmã dela, que mora lá, a irmã até me deu uns moles, e faz mais meu tipo, meio caladona, e se amarra em mim.
- ZZZZ.
- Mas sabe o que me deixa louco na minha mina? A marquinha de biquíni na bunda. Porra, é só olhar para aquilo que eu fico de pau duro logo, é foda.
Outro pano.
É claro que eu não tenho disposição de arrumar quizumba com ninguém, nem mandar o cara tomar dentro por ter me obrigado a imaginar a cena. E não tenho dúvida de que essa "marquinha de biquíni" que o cara me pintou como sendo da Scheila Carvalho é na verdade o sombreamento de um pára-quedas em um traseiro igual ao da Vic Militello ou da Thelma Reston (a "Gorda" de Os Sete Gatinhos).
Mas ainda tento entender, por que taxista come tanta gente, se passa o dia rodando a cidade. Ou, queria entender melhor, por que venho sempre depois de uma foda. Daqui a pouco meu apelido vai ser "uisquinho".