01 março, 2003

O mundo fascinante da publicidade
Passo de ônibus em direção ao Metrô, vejo um out-door, um cara meio gordo, de óculos (acho), com uma das bocarras mais abertas que eu já vi, olhos esbugalhados. Em cima: "Chamex. Imprimindo alegria".
Mais adiante, ao lado do Metrô da Cardeal Arcoverde, mais três meninas, jovens, risonhas, com os hormônios explodindo feito pipoca, exibem uma felicidade quase insuportável para a miséria que circunda o local. O out-door é mais colorido que uma embalagem de drops Dulcora. E de novo: "Chamex. Imprimindo alegria".
Em uma revista, a mesma frase, mais gente rindo falso pelos cotovelos, parece até boato de teto salarial baixo em reunião da Fiesp. E sempre "Chamex, imprimindo alegria".
Aí eu sempre me pergunto: "Por que papel para xerox traz tanta felicidade? Vem alguma droga junto?"
Nem dá tempo de pensar na resposta, porque ligo a TV e vejo um comercial também supercolorido, com gente feliz de todas as idades. Só gente vitoriosa, saudável, bem-resolvida - do mesmo jeito que em comercial do McDonald´s não tem gordo (e se tem é gordo feliz), em comerciais não há espaço para mazelas.
Depois de 30 segundos descubro o produto. "Elimine a sensação de desconforto e de estofamento (é assim mesmo, não existe "estufar") causada pelos gases, dê Luftal para sua família".
Catzo. Deve ser muito difícil anunciar um produto cuja principal função é fazer o cliente peidar. E peidar pra caralho. Mais ainda, deve ser difícil demais convencer o cliente de que ele tem que peidar e ainda botar a família toda para submergir na flatulência desenfreada.
O comercial ainda encerra com a foto de um bebê sorridente, ao lado de um vidrinho do Luftal. Peida, baby, peida. Brrrffff.