Frio
Nada no mundo a faria gostar de frio.
Havia apenas uma situação em que sentia-se bem no inverno: quando estava debaixo do cobertor. Então gostava de ficar quieta, dormindo, lendo ou assistindo televisão. “Namorando, talvez”, ela dizia. Os amigos perguntavam, intrigados, “mas será que nem o romantismo da estação te agrada? Uma taça de vinho, uma lareira, isso não te excita?”. Ela respondia, seca, “não”.
Um dia, a vida levou-a para um outro país. Bela e faceira, andava deslumbrada pelas ruas de sua nova cidade, cachecol enrolado ao pescoço, vestindo casaco e luva. Como se fosse a pessoa mais feliz do mundo e como se o sol nunca tivesse feito parte de seu cotidiano, morreu por lá, à 15º C negativos.
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