24 agosto, 2002

Let the good times roll
Meu irmão me envia email com um link muito legal, o http://www.avelharia.hpg.ig.com.br/, um site ainda meio desarrumado mas que, com contribuições de leitores, juntou itens nostálgicos de diversas épocas: gibis, brinquedos, filmes, seriados, enfim, coisas para quem já está na terceira dezena. Um barato. Mas ao mesmo tempo fiquei pensando no quanto a nostalgia sempre foi moda. E me perguntando o porquê.
No futebol, nada mais freqüente, comum. Meu pai, vendo aquele timaço de Zico, Júnior, Adílio e Leandro nos anos 80, dizia que era bom e tudo o mais, porém, "craque mesmo era o Zizinho". Bom, nem duvido - afinal, até Pelé, o Rei do Futebol, já disse que Zizinho era seu ídolo. Mas eu não conheço um fanático por futebol que não tenha, desde os anos 70, a mania de dizer que "fulano é que era bom". E, claro, sempre tem o cara ao lado para dizer que naquele tempo se amarrava cachorro com lingüiça.
Na música, chamam de onda nostálgica uma mania que para mim me parece simples: gostar de um artista, gostar de suas músicas, independente de que ano o cara tenha nascido. Nós, que gostamos de música pop, temos que nos submeter a regrinhas de gente que faz fanzines e revistas musicias (como dizia Frank Zappa: "Jornalistas de rock são gente que não sabe escrever entrevistando gente que não sabe falar para leitores que não sabem ler"), segundo as quais a música do mês passado está "superada" - como se música fosse uma competição olímpica com recordes e tudo o mais.
Já quem se dedica a ouvir música erudita e jazz, bom, esses ouvem compositores com trezentos ou quatrocentos anos de diferença entre suas datas de nascimento. E a mim me enchem o saco por ainda gostar do Tatoo You, de 1981.
Nos filmes, mesma onda: há os segmentos que apreciam o filme só em preto e branco, há até aqueles que são contra o cinema falado - como diz minha namorada, Marcele, há gente que diz que Woody Allen não é cineasta e sim dramaturgo. A esses chamam "nostálgicos"? Não sei. Só vejo que o passado é e sempre foi culto, mais do que uma moda ou tendência, se voltar para o passado parece ser uma característica quase biológica do ser humano. Até hoje tento saber em que filme um aquário com peixes dourados é focalizado enquanto em off uma criança canta "frére jacques" - porque eu me lembro da tarde em que vi esse filme com uns cinco anos de idade.
O gosto de um doce qualquer da infância, o cheiro de um mato diferente, a sensação visual, enfim, parece que estamos sempre atrás do que fomos um dia, como se o presente fosse o resultado de uma experiência fracassada. Sempre. Em suma, talvez sejamos rigorosos em nossa autocrítica, de modo que preferimos exaltar aquilo que fomos do que esperar grandes coisas daquilo que possamos vir a ser. Daí nos prendemos aos valores do passado.
Não, nada do que eu concluí vai me fazer me libertar da minha coleção de CDs, muito menos dos meus CDs do Creedence Clearwater Revival. Porque com arte a coisa é diferente - o que se cria, não tem tempo linear, e sim eternidade. Como dizia Vinícius, seu tempo é quando.