01 abril, 2003

Dormindo eu não tô é gastando
A frase acima, de autoria do imortal 26, já está mais do que imortalizada - falta talvez o registro, quem sabe, cinematográfico. Ontem eu a repeti mais uma vez para quem me ligava, explicando porque eu passei três dias de folga sem fazer absolutamente nada a não ser ver TV e esperar Marcele. Ela está fazendo estágio, só que tem plantão de fim de semana (um sim, o outro não, como eu). É evidente que a colocaram para trabalhar no fim de semana em que eu folgo, né?
Daí fiquei assistindo a filmes ruins no Telecine. Melhor isso que no HBO onde, além de filmes MUITO ruins, ainda tem séries ruins. Comprovei isso em Penedo: em uma semana de programação, absolutamente NENHUM filme bom.
Mas vi um telefilme interessante com Anthony Hopkins e Kristin Scott-Thomas, "O Décimo Homem" (The Tenth Man, 1988). Um argumento muito bom de Grahan Greene, o escritor, autor de "O americano tranqüilo" - pena que, ao ser trabalhado para roteiro de TV, o tema acabou sendo burilado de forma a parecer um episódio de "Dallas".
A trama é a seguinte: durante a ocupação alemã em Paris na 2ª Guerra Mundial, os nazistas anunciam na prisão que, devido ao assassinato de um oficial por parte da Resistência Francesa, de cada dez franceses presos, um deverá ser fuzilado.
O requinte de crueldade: os companheiros de cela é que devem escolher os três (já que eles são trinta). E não há alternativa, ou escolhem, ou todos morrem.
Eles fazem um sorteio no qual todos tiram um papel de dentro de um sapato. O personagem de Anthony Hopkins tira o último dos três papéis marcados com um X que indicam os futuros fuzilados.
Desesperado, Hopkins (ou Chavel, como é o nome do cara) começa a oferecer todas suas propriedades e dinheiro para quem se oferecer para ir no lugar dele. "Quem é que vai querer isso tudo sem poder usar depois?", um dos prisioneiros pergunta. A resposta vem rápida - um prisioneiro chamado Michel, de uma família de camponeses paupérrima, se oferece. Está tuberculoso, sofrendo com a doença, e sua mãe e irmã padecem na miséria.
A "negociação" é feita e Michel é fuzilado de manhã.
Chavel então volta para casa, onde vai morar com a irmã e a mãe do prisioneiro Michel. Mas como ele não tem mais nada, passa a viver como mendigo. E depois, criado da casa.
A trama tem frases como "todos um dia são testados". Faz até sentido - como em um assalto em que oferecem "a bolsa ou a vida", o personagem de Hopkins ofereceu a bolsa inteira. Por alguns momentos do filme, porém, se vê que ele perdeu também a vida, a identidade. O meio de vida anterior, com tudo certo, ele sendo um advogado de renome, com uma grande casa, bem-sucedido, etc, tudo isso tinha ido para a puta que pariu, a partir do momento em que os alemães invasores decidiram que isso tudo era merda. E, por um momento, quando viu que a casa ia cair, ele também decidiu que isso tudo não valia nada.
Um bom telefilme, esse. Está passando no Telecine Emotion.