21 novembro, 2002

Um cara de visão
E houve o tempo em que tudo era na base do escambo. Segundo grau no CEFET-RJ, eu pegava o ônibus 442 todos os dias, tendo no bolso o dinheiro da volta (não existia vale-transporte), algum a mais para eventualidades e um tíquete fornecido pela escola, "vale um lanche padrão", dirigido a alunos "carentes".
Bom, é verdade que eu chorava uma miséria que eu não tinha, para ganhar o tíquete. Órfão recente de pai, usava a condição como principal argumento a fim de faturar os tíquetes, que só valiam na cantina da escola e davam direito a um refresco de qualquer sabor e....um pão com ovo e muzzarela.
De vez em quando, sobrava algum e eu comprava um LP, na Sears da Praia de Botafogo. Me lembro dos dois primeiros: Led Zeppelin 3 e Peter Frampton "Rise up", uma coletânea do ex-guitarrista do Humble Pie.
Mas com pouco dinheiro, o escambo era quase obrigatório.Troquei um cartaz do filme "Fúria de Titãs" por dois discos do Deep Purple, "Fireball" e "Who do we think we are". Me lembro que, mesmo na época em que eu gostava de Deep Purple, achava os dois LPs horríveis.
Depois dessa troca excelente, em que fiquei com dois discos péssimos e cedi um cartaz que hoje seria uma raridade, com o mesmo negociador troquei uma revista "Status" por um disco do AC/DC, "Dirty deeds done dirt cheap" (LP que perdi uns três anos depois). Bom negócio?
Hoje, lendo na coluna do Ancelmo Góis em O Globo sobre uma barraquinha da feira do livro, tive minhas dúvidas. Está lá: "A barraca (...) vende exemplares (...) da antiga revista Ele e Ela, ambos com Xuxa, nuinha. Valor da raridade: R$ 150 cada".
Desnecessário dizer quem estava na capa dessa revista Status, como veio ao mundo, e com um ensaio de 20 páginas. Ela mesmo, Maria da Graça Meneghel.
E o pior é que eu nem gosto tanto assim de AC/DC.