Um cancioneiro dos bons
No canal Multishow, uma apresentação de Paul Simon, provavelmente relativa ao último CD do fantástico músico americano, "You are the one". Além da música multi-etnia que Paul vem mostrando desde "Graceland" (1986), uma pausa para a execução de alguns dos maiores sucessos dele na versão Simon & Garfunkel: as maravilhosas "Old Friends", "Homeward Bound" e "I am a rock". Sozinho ao violão, Paul mostra mais uma vez que suas canções são quase hipnóticas, e que no momento em que alguém sussurra em um violão os versos "I am sitting in a railway station/got a ticket for my destinantion...", o tempo deixa de ser relativo e passa a ser absoluto. Impossível chamar de velha uma música que envolve adolescentes, adultos, idosos, crianças, todos na platéia.
As palmas marcam o ritmo de "Homeward bound", que discorre sobre a angústia de desejar já estar voltando para casa nas viagens mais longas - quando se fica mais de três semanas viajando, bom, por pior que seja o seu lugar, aparece um desejo incompreensível de retornar a ele e ver se algo mudou. E se mudou sem que você precisasse estar lá para sofrer, como o enterro de um parente quando você está do outro lado do mundo e não dá tempo de ir. "Home, where my music´s playing, home", canta Paul, fazendo de tudo em volta um berço.
Igualmente geniais são os versos da espetacular "I am a rock", uma das minhas preferidas. Uma canção que fala de amargura, de desgosto, de quando você um dia quer dar o melhor de seu sentimento para o mundo, ou melhor ainda, somente para uma mulher, e recebe de volta um completo desprezo, ou pior ainda, a futilidade. Aí pinta aquele rancor, que Paul Simon traduz de forma inigualável:
"I am a rock/ I am an island/ I've built walls/A fortress deep and mighty/That none may penetrate/I have no need of friendship; friendship causes pain/It's laughter and it's loving I disdain/I am a rock, i am an island"
Um clássico, sem dúvida. Esse momento do show me lembrou muito um final de tarde em que o grande The Axe nos brindou, na casa do Botequim, com um recital, ao violão, de alguns dos maiores clássicos da dupla americana - "The Boxer", "American Tune", "Sounds of silence", "A heart in New York", foram algumas das músicas tocadas pelo André Machado, todas daquele antológico disco "Concert in Central Park", de 1981.
Um final de tarde daqueles em que, não importa por que fase você está passando, não importam os desgostos que você tenha, a sensação é a de que tudo vai ficar bem.
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