Texto interessante
O amigo Laertón Glauquito me envia texto interessante, escrito pelo jornalista Alexandre Garcia. Tá, o cara era meio collorido em 1989, mas não é por isso que vai deixar de fazer algo bom, certo? Afinal, Marília Pêra, uma de nossas maiores atrizes, também colloriu. Segue o texto:
Um amigo acaba de me mandar o resultado de uma comparação entre nós e os americanos. Uma discussão em que um ianque prova, pela ciência exata da Matemática, que os brasileiros são mais ricos do que os americanos. Ele começa argumentando que pagamos o dobro que os americanos pela água que consumimos, embora tenhamos mais água doce disponível. Depois, demonstra que nós pagamos 60% a mais nas tarifas de telefone e eletricidade. Além disso, os brasileiros pagam o dobro pela gasolina de má qualidade consumida por seus carros.
Por falar em carro, argumenta o americano, nós pagamos US$40 mil por um carro que nos Estados Unidos custa 20 mil, porque damos de presente US$ 20 mil para o nosso governo gastar não se sabe onde, já que os serviços públicos no Brasil são um lixo perto dos serviços prestados pelo setor público nos Estados Unidos.
Um morador da Flórida mostra que, como lá são considerados pobres, o governo estadual cobra apenas 2% de imposto sobre o valor agregado (equivalente ao ICMS no Brasil), e mais 4% de imposto federal, o que dá um total de 6%. No Brasil, somos ricos, porque concordamos em pagar 18% (dezoito por cento!) só de ICMS, alega o americano. O americano diz não entender como somos tão ricos a ponto de não nos importarmos em pagar, além disso, PIS, Cofins, Cosdiabos, CPMF, ISS, INSS, IPTU, IPVA, IR, e outras dezenas de impostos, taxas e contribuições, em geral com efeito cascata, de imposto sobre imposto, e ainda fazemos festa nos estádios de futebol e nas grandes passarelas de carnaval. Sinal de que nem nos incomodamos com esse confisco maligno de mais de três em cada dez dias do nosso suado trabalho. O americano lembra que, em relação ao Brasil, eles são pobres, tanto que são isentos do imposto de renda se ganham menos de 3 mil dólares por mês (o equivalente a R$ 7.500,00 mensais). No Brasil, diz ele, os assalariados devem viver muito bem, porque pagam muito imposto de renda, desde quem ganha salários em torno de mil reais. Além disso, com o desconto na fonte, ainda antecipam imposto para o governo, sem saber se vão ter renda até o final do ano. Essa certeza nos bons resultados futuros torna o Brasil um país insuperável, conclui o ianque. Voltando aos serviços públicos, os brasileiros são tão ricos que pagam sua própria segurança; nos Estados Unidos, os pobres cidadãos dependem da segurança pública. No Brasil, os pais pagam a escola e os livros dos seus filhos porque, afinal, devem nadar em dinheiro. Nos Estados Unidos, os pais americanos não têm toda essa fortuna e mandam seus filhos para as escolas públicas, onde os livros são emprestados aos alunos. Os ricaços brasileiros, quando tomam no banco um empréstimo pessoal, pagam por mês o que os pobres americanos pagam de juro por ano. Eu contei ao americano que acabei de pagar R$ 2.500,00 pelo seguro de meu carro e ele confirmou sua tese: vocês são ricos! Nós não podemos pagar tudo isso por um simples seguro de automóvel. Por meu carro grande, eu pago US$ 345,00 por ano nos Estados Unidos. E acrescentou: mais US$ 15.00 de licenciamento anual. Em contrapartida, o último IPVA que paguei no Brasil não saiu por menos de R$ 1.700,00. Aí o ianque pergunta: Afinal, quem é rico e quem é pobre? Aí no Brasil, 20%
da população economicamente ativa não trabalha. Aqui, não podemos nos dar ao luxo de sustentar além dos 4% que estão desempregados. Não é mais rico quem pode sustentar mais gente que não trabalha? Caro leitor: estou sem argumentos para contestar o ianque. Afinal, a moda nacional brasileira é a aparência. Cada vez mais vamos nos convencendo de que não é preciso ser, basta parecer ser. E, afinal, gastando muito, a gente aparenta ser rico. E somos infelizes e pobres sem saber. Lembre-se disso na hora de votar.
Legal o texto, né? Só que na minha opinião seria necessário que o Alexandre Garcia tivesse lido "As veias abertas da América Latina", do Eduardo Galeano. Talvez aí ele entendesse melhor a relação entre primeiro e terceiro mundo (até hoje eu não sei onde anda o segundo mundo).
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