05 junho, 2002

Os melhores LPs da minha juventude
Cheap Thrills
Sim, eu confesso: eu tive um LP do Christopher Cross, que tinha aquele xarope, 'Sailing" e uma outra mais animada, "Never be the same", além da "Ride like the wind", igualmente dançante. Só escutava essas três músicas, mesmo assim porque me lembravam - ou remetiam diretamente, em termos emocionais - os momentos em que eu ficava decidindo sempre em não abordar aquela garota de quem eu estava a fim há meses.
Pois é, essas músicas tocavam nos hi-fis, aquelas festinhas em que sequer se sonhava em ter DJ, quando o cara tinha um "jogo de luz" ele era fera e, garanto, sequer se sonhava em dar qualquer glamour ao cara que ficava trocando as músicas. Naqueles anos 70 e 80, o cara ser escolhido para colocar músicas era mais ou menos como o sorteado para não beber. Volta e meia eu era sorteado - e já coloquei "Just the way you are" (com Barry White) para o amor da minha vida (um dos vários que surgiam de seis em seis meses) dançar com outro cara. Mas tava tudo bem.
Mas quando escrevi "Cheap Thrills" lá em cima, obviamente não me referia a nenhum disco do Christopher Cross, e sim àquele que é sem dúvida o mais emblemático, o mais representativo LP dessa cantora meio esquecida chamada Janis Joplin. Na verdade, o artista do disco nem era a Janis - era, sim, "Big Brother and the Holding Band". Sim, Big Brother é um nome que já significou algo bom para mim.
Por que relacionar esse disco com Christopher Cross? Porque esse disco era o anti-clímax, era a trilha sonora da auto-aceitação. Era a afirmação dos principais motivos pelos quais um adolescente pré-rejeitado poderia gostar de rock and roll - e com certeza funciona até hoje, por exemplo, com o Nirvana.
A mecânica é simples: você se apaixona por uma menina. Ela te dá uma certa atenção. Obviamente, depois de um certo tempo falando amenidades a seu lado, a moça resolve satisfazer seus hormônios - e ao olhar para você, bem, ela acha, até rola. Mas com fulano ali a coisa fica mais forte (opinião dela).
Tudo isso acontece em questão de minutos - você chegou a dançar "Is it okay if i call you mine", do Paul McCrane (puta que pariu, essa foi dose) com ela, mas veio o outro e papou a parada.
Aí você agüenta, na boa. E ouvir a mesma música te faz bem, pois você lembra do perfume dela, lembra da maciez de sua cintura, do som de sua respiração, do toque macio das mãos dela nos seus ombros ou onde quer que seja. Você ouve a música e vai revivendo tudo, até que quando o cara fala "And iiii will be, just yours", a mina larga você no meio da dança e vai com o Fulano.
Aí, em casa, você tira o Paul McCrane e coloca Janis Joplin berrando "Ball and Chain". E berra junto, irmão.
LPs já abordados
Sticky Fingers - Rolling Stones
Peter Framptom - idem
Tapestry - Carole King
The Wall - Pink Floyd
Tatoo you - Rolling Stones