Opa, peraí
Vi no bom blog Piores Blogs (bem interessante), um comentário sobre a história da Soninha e da Época que reproduz o que têm sido falado por aí: a velha canção da ética na imprensa e "tadinha da Soninha, foi enganada". Opa. Peraí. Sou jornalista e geralmente sou o primeiro a falar que a gente age errado em alguns casos, que expõe a vida pessoal e profissional de alguns às vezes desnecessariamente, e tudo o mais. Só que dizer que a Soninha foi "ludibriada" é acreditar demais tanto na má fé da galera da época (só para início de conversa, é onde trabalha o Marceu Vieira, que além de ser um dos melhores textos do Brasil e um repórter nota 100 é um cara de uma correção e bom caráter absolutos. Marceu não aguentaria ficar muito tempo na Época se ali fosse um ninho de víboras) quanto na ingenuidade da Soninha, que vive no meio da imprensa há anos, é colunista da Folha, trabalha na ESPN Brasil e na MTV.
O que entra em discussão não é a qualidade da Época ou o bom gosto da capa. A discussão é saber se a Época agiu sem ética. E na minha opinião, não houve problema ético algum. O cara dá a entrevista, aceita as regras, e a revista coloca a entrevista onde bem entender. Se o cara não quiser, simplesmente não fala, dane-se. O Chico Buarque, por exemplo, não fala com a Veja.
Sinceramente, todas aquelas pessoas na capa da Época falaram, sim, que fumam maconha. A esta altura do campeonato, em que há PL em andamento sobre a descriminação da maconha no Congresso, não é possível que alguém ache que a declaração de que fuma maconha será usada num pé de página. Dentro da matéria há outras pessoas que até posaram para fotos, dona de loja, de griffe, e tenho certeza de que elas sabiam que a foto sairia ao lado da declaração.
Se a gente ficar com esse discurso de que qualquer coisinha que desagrade o entrevistado agride a ética da imprensa, tendemos todos a nos tornar uns bunda-moles. Para ser jornalista é preciso ter firmeza. Senão daqui a pouco você entrevista alguém, no dia do fechamento o entrevistado liga e diz, "ah, retiro tudo que eu falei", e fica por isso mesmo.
Eu espero que a hipocrisia, nesse caso, seja apenas da lei que - infelizmente - a TV Cultura foi obrigada a obedecer, a de não poder manter funcionários que assumam "crimes" publicamente. Senão o mundo fica mais sem graça - imagine o Pedro Collor dizendo "puxa, sacanagem, eu queria denunciar meu irmão Fernando mas no sapatinho, precisava a Veja me colocar na capa, fazer um estardalhaço?".
Difícil, né?
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