23 novembro, 2001

Nova série: O descobridor dos sete bares (1)
O primeiro bar a ser abordado nessa nova série não existe mais - o Bukowski. Mas aproveito a ocasião para dar uma nota que vai encher de alegria os antigos freqüentadores desse inesquecível bar: com um formato diferente, mas espero, com a mesma alma, o bom Bukowski vai reabrir, ali na Rua Paulino Fernandes, em Botafogo. E mais não posso falar.
A minha bebida preferida no Bukowski era o Jack Daniel´s, sempre servido em doses eqüinas pelo pitoresco barman Diniz, de Moçambique. Tanto que durante dois anos usava o nick name Jack Daniel´s quando entrava em algum chat - hábito que, diga-se de passagem, considero pavoroso e que não faço mais.
Raramente comia alguma coisa no velho Buk, porque ficávamos lá em cima, ouvindo som, dançando. Festas memoráveis aconteceram naquela pista, e quando me recordo, não sei, parecia que estávamos em algum filme. No Bukowski era possível estar perto de todo mundo e ao mesmo tempo estar longe dos chatos. Aliás, poucos chatos frequentavam aquele lugar.
Me recordo de quando voltamos, eu e o grupo de sempre da época, da inesquecível festa de Humberto Tziolas lá no alto da Stefan Zweig em Laranjeiras. Chegamos por volta de cinco e meia da manhã no Bukowski. O caixa fechando, tudo vazio. Pulamos o balcão e começamos a beber. Me lembro de ter me servido de Jack Daniel´s em uma tulipa de chope. Comentário da Cris, dias depois: "Gente, o pessoal que vê a gente fazer essas coisas deve pensar que a gente cheira cocaína". Verdade. Virávamos praticamente todas as noites. Na maioria das vezes, saíamos do Bukowski quando as primeiras barracas da feira livre de sábado começavam a ser armadas. E nunca nenhum de nós sequer chegou perto ou cogitou usar cocaína. Era tudo no peito, na raça e na cachaça.
Foram várias noites históricas. Um desceu dando porradas em poste por causa da ex-namorada. Outro saiu carregando oito pessoas num carro pequeno com a bandeira da Irlanda do lado de fora. Todos prometeram um dia roubar o tigre de plástico que ornamentava o posto 24 horas na rua próxima. Outros prometiam fazer um filme com a história do bar. Tudo, tudo o que foi visto, proposto e assumido se perdeu no vazio, quando o bar foi fechado.
Mas eu garanto que um dia a gente ainda rouba aquele tigre.