02 novembro, 2001

Nova série: mulheres que um dia amamos
Regina
Conheci Regina numa dessas noites de 1998 no Bukowski que davam certo, todos juntos, mais de vinte amigos no mesmo lugar, bebendo, dançando, fumando cigarros, falando suas alegrias e tristezas, dando a impressão de que a gente estava até em um filme. Ao fundo, Smash Mouth tocava "Walking on the sun", e lá embaixo, entre uma cerveja e um Jack Daniel´s, eu olhava, pensava, conversava.
Regina era amiga de um amigo próximo, dos mais próximos. Morena, alta (alta demais para mim, pelo menos), corpo bonito mas não exatamente esculpido e nem um pouco previsível, como se pressupõe quando dizemos que uma mulher é gostosa. Seios imprevisíveis, os de Regina.
Ficamos conversando sobre a vida, sobre música. Como toda menina feliz, falava pelos cotovelos, a Regina. Conversamos sobre Velvet Underground, e comentamos que aqueles caras deviam consumir muita heroína. Nesse momento, Regina, agradavelmente bêbada, fez uma expressão deliciosa com a boca e disse, "hummmm, deve ser uma delíííciiaaa", falando de heroína como quem fala de um doce da Chaika.
Depois, falamos que ela era muito exótica, e bêbado disse a ela que não acreditava muito que ela fosse terrestre. "Às vezes acho que eles virão me buscar", disse ela, mas sem querer dizer com isso que era especial ou coisa assim, ela simplesmente achava que era meio por fora do mundo. Ou se sentia assim.
Ela achou que eu estava triste, e disse que eu era lindo. Doce mentira, de Regina, e eu disse a ela ternamente que era uma mentira muito agradável dela, mas pra quê? Me deu algumas broncas, e disse que os caminhos das pessoas vão aparecendo no próprio caminho, enfim, disse algo assim.
Só vi Regina aquela noite, no Bukowski. Depois, fui tendo notícias dela. Foi para Brasília, casou, engravidou, coisas assim.
Encontrei-a no Lamas um dia, um dia qualquer do ano passado, com barriga grande de grávida. Ela continuava com o sorriso lindo das pessoas que vivem sem culpa. Sorrindo, lembrou do que dissera dois anos antes, e com um ar de cumplicidade, disse, "é, eles vieram me buscar". Foi a última vez que vi Regina.
No final, descobri que era possível sentir tristeza e intensa felicidade ao mesmo tempo.