19 novembro, 2001

Esperança
Sentimento mais estranho. Muitas vezes, não sabemos nem temos idéia do que estamos esperando. Passam os trens, os ônibus, os carros, e não vemos em nenhum deles o nosso destino. Nosso transporte passa uma vez por vida ou por ano? - nosso meio de viajar com a alma é irregular, não autorizado, sem cadastro, sem carteira e sem IPVA.
Esperar de esperança, em inglês, é "hope". Esperar de esperar bonde, trem, avião, é "waiting". O "waiting" induz a uma espera meio que com limite, e que pode ser longa ou curta. O cara que espera estabelece um tempo máximo para seu ato.
Já a esperança se perde no corredor da insensatez. A gente continua vivo, mais ou menos porque tem esperança de uma coisa mudar, de algo aparecer, de um emprego bom arrumar, de um novo amor nascer, de uma invenção acabar com a insônia e a enxaqueca, de uma alergia sumir, e quem sabe até a velha esperança nacional de ganhar na megassena.
Essas esperanças, com certeza, podem durar a vida toda. Podem, eu disse. Porque muitas vezes, essas esperanças abstratas se perdem - algo as mata, algo as enterra em definitivo. Aí, passamos a viver para algo que inventarmos.
Esperando o sonho. Que, infelizmente, sempre vem.