28 novembro, 2001

"Porque não faço resoluções de final de ano" ou "As rabanadas são as culpadas"

Nunca cumpri uma resolução de final de ano. Donde concluo que se eu não posso confiar na minha palavra, quem me dará credibilidade?
Quando eu era criança e estudava em colégio de freira, prometia no final do ano que eu iria rezar mais, ajudaria mais a minha mãe, estudaria, não faria muita bagunça e ficaria menos preguiçosa. Mas o ano se passava e eu percebia que não precisava ter feito promessa nenhuma porque já fazia tudo isso naturalmente e subordinadamente como uma criança obediente que fui. Menos a preguiça. Tá bom, a bagunça também. Mas o resto, até que cumpria. O tempo passou e eu não tive mais paciência para essas promessas de final de ano. A vida se apresentou. Passei a detestar o Natal e não acredito em Deus. Para manter a minha saúde mental e normalidade social, mantive algumas superstições, como molhar o pé na água do mar à meia-noite, usar roupas novas, não necessariamente brancas, e comer rabanada. Comer rabanada é fundamental para o meu ano correr bem. Sem elas, tudo no próximo ano é tragédia. No final do ano de 1997, por exemplo, não comi rabanadas nem no Natal nem no Ano Novo e pronto, precisei fazer análise o resto do ano para poder suportar a tristeza que as rabanadas me impuseram no ano seguinte.
Na verdade, eu sei que estarei mudada do dia 31 desse ano para o dia 31 do próximo ano (se estiver viva, dirão os incrédulos) e assim, sucessivamente (e assim espero) e sei que poderei desviar o curso de tudo o que resolver mudar no decorrer do ano que vem no que depender de mim (não devo ganhar na loto). No resto, falta-me pulso e tesão. Mas chego lá. Talvez não troque meu emprego, nem mude meus hábitos, mas sei que os encararei de outra forma.
É, minha única resolução para o ano que vem será encarar as coisas de outra forma.
...e também rir, chorar, escrever, beijar, ler, comer, parar de fumar, casar, ter um filho, não ir mais ao Mc Donald´s, não beber mais coca-cola, não deixar a roupa para lavar acumular, fazer ginástica, sair menos nos finais de semana...e ligar mais vezes para a minha Tia Julia.