21 novembro, 2001

Especial

Tenho mania de começar a escrever começando com “acordei assim ou assado”. Acordar é especial. E hoje é um dia especial para mim. Por que? Não sei. Não quero mesmo saber. É especial porque é mais um dia. Fez sol. Porque estou aqui, digitando. Porque pensei nas coisas que tenho. E nas que não tenho. É um pouco como uma sensação de “gostar de não saber”, meio papo de botequim, sobre o que é ou não especial e saber que isso pouco importa.
É comum as pessoas falarem demais. Gastarem saliva com discussões tolas e sem fim. Também faço isso. Futebol, por exemplo. Religião. Preferências. Dores. É tudo tão estúpido que torna-se estranhemente especial, talvez pela insensatez do bate-boca, pelas controvérsias. Diverge-se sobre tudo. E precisamos disso.
Olhei para as minhas olheiras no espelho de manhã, abri a boca e olhei meus dentes um pouco amarelados, sorri de lado, despenteei o cabelo, cantei uma música do Cazuza, “o tempo não pára, não, não pára” e vi a piscina de muita gente cheia de ratos e me senti especial por vir “sobrevivendo, dias sim, dias não”, porém, ao contrário da música, “cheia de arranhões”.