Histórias de ônibus
- Eu não quero falar com você agora, sai fora".
- Peraí, cara, me ouça.
- Cara, eu tô muito nervoso, já falei que não quero falar, sai fora, meu irmão.
- Mas..
- Mas não adianta, eu não vou ouvir. Eu te ligo pra conversar.
As pessoas no ponto de ônibus acompanham a cena, silenciosas como se fosse uma partida de tênis, olhando ora para um, ora para outro: um homem numa bicicleta, apoiado a um poste tenta falar com um outro que segurava uma maquete.
- Não tá vendo, tá todo mundo olhando, vai embora, pôrra.
- Eu estou aqui como seu amigo e não como seu chefe, Roberto. Me ouve.
- Pôrra, já falei pra você ir embora, eu não quero ouvir nada, estou nervoso!
- Mas tem solução.
- Não quero ouvir sua solução, sai fora.
O “chefe” então retirou-se de fininho com sua bicicleta, sob o olhar atento de todos. O “empregado” ficou por ali mais alguns segundos, com uma maquete na mão, entrou num ônibus pro Leme e nos deixou com uma pulga atrás da orelha.
- Coitado, deve ter sido demitido - imaginou a velhinha ao meu lado.
Outra situação. Os celulares são o principal objeto para isso. Dentro de um ônibus, toca uma daquelas musiquinhas rin ring e o sujeito atende:
- Oi, meu amor. ...tudo....não, não vou poder....ah, mas não fica triste....é, estou em São Paulo, fui mandado às pressas pra cá, no final de semana a gente se vê....eu te amo....tá, pode deixar....eu também, eu também, você sabe disso.
E desliga. Não preciso nem dizer que quando o cara disse que estava em São Paulo o ônibus inteiro virou-se, nem que fosse disfarçadamente, para ver o rosto do cara-de-pau.
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