26 maio, 2002

Saturday night almost dead
Eu me conheço razoavelmente bem, e já tenho um entrosamento de alguns anos com a minha Gripe. Conheço mais minha Gripe do que a muitas namoradas que já tive - com a diferença de que nunca brigamos por causa do controle remoto.
Logo, sei que depois que minha Gripe vai embora, deixa a Bronquite. Sempre. Este ano, ela não só demorou pacas a chegar (desde janeiro eu não caía de cama, e em janeiro foi amigdalite) como ainda foi embora rápido. Graças ao consumo diário de Cewin e sucos diversos, principalmente os sucos de soja Ades. E principalmente o de pêssego.
Enfim, sábado à noite, saio do plantão com uma bronquite daquelas. E nessas horas sei que a única coisa que adianta é ficar quieto, e paciente. Sem estresse. Me torno anti-social. E decido fazer a única coisa possível: passar a noite em frente à TV, até conseguir dormir.
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Começo vendo "Shaft", com Samuel L. Jackson. Gostei. Mas não entendi porque foi tão badalado - filmezinho bobo pra cacete. Os mesmos cenários: bairros negros, cheios de caras com casacos grossos e colares, com raps e fumaças que ninguém explica de onde vem. Trilha sonora do Isaac Hayes e muitos tiros. Personagem do Jackson é clichê: um negão que dá porrada em todo mundo e fala Fucks e Goddamns com aquela velha e educada freqüencia. Mas o filme vence, tudo bem.
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Termina "Shaft" e giro o controle remoto. Ah, uma das minhas atrações preferidas: o inacreditável Sabbá Show, apresentado pelo não menos inacreditável Daniel Sabbá, marido corno da Syang - artista que até hoje eu tento descobrir o que faz, mas é realmente impossível. Sei de uma coisa: não é tocar guitarra o que ela faz. Bom, mas no Sabbá Show, está rolando um show do Pepeu Gomes. E ele está cantando uma daquelas ruins, dos anos 80. Não, não é "Pedra não é gente ainda", é algo do nível.
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Corta o show. Não dá para identificar o lugar. O som é péssimo e a imagem não menos. Cheguei a achar que o Pepeu Gomes era o Ozzy Osbourne. Mas garanto que não fiz confusão maior do que nenhuma das filhas dele. Sabbá entrevista três delas, com aquele velho estilo intimista. "E aí? E o paizão?". As filhas (três) respondem que o paizão é 10. Sabbá, inspirado, diz, "o Armandinho disse que seu pai tem um pouco de Jimi Hendrix". As filhas concordam. Uma delas: "Papai tem toda essa influência do JIMI (saquem a intimidade), assim como a mamãe tem tudo da Janis Joplin".
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Pepeu então é o Jimi Hendrix e a Baby, a Janis Joplin. Pepeu, reconheço, toca como poucos. Mas sua música não tem o menor traço da música de Hendrix. E mais uma vez faço a imortal citação do Maloca: no dia em que a Baby cantar como a Joplin, o Tiririca vira presidente da Academia Brasileira de Letras.
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Daniel Sabbá continua sua peregrinação. O próximo entrevistado é o Armandinho, guitarrista. Tá mal o cara. Muito doido. Aí dispara: "Pepeu é um guitarrista que desde o início me encantou, tinha toda aquela influência de Jimi Hendrix (ahá! foi ele mesmo!), mas com pitadas de Bossa Nova e o encontro com o Rock, e com sua guitarra deixando fluir a brasilidade".
Eh?
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Sabbá se encontra com Jorge Benjor. Esse, eu nem gosto de falar. Tentei uma coisa simples e que eu achava legal, ano passado: pedir ao Jorge Benjor um texto de 30 linhas sobre o Flamengo, uma de suas paixões. No dia em que falei isso com amigos jornalistas que trabalham em cultura, neguinho mandou: "Ih, ele não fala", "Benjor? Vive isolado no interior de São Paulo", "Ih, o cara só sai da toca de vez em quando?", "Olha, tentar você pode, mas acho difícil".
Liguei para uma assessora que era amiga de uma ex-assessora do cara, enfim, tentei de tudo. Isso porque eu supunha ingenuamente que um artista precisava manter uma certa exposição simpática na mídia para vender seus discos, mas eu estava enganado. Enfim, fiz esse esforço todo, como diziam lá no interior, caguei sangue, e porra nenhuma.
De repente, neste sábado descubro que o Jorge Benjor e o Daniel Sabbá são....AMIGOS DE INFÂNCIA! Sério! Abraçados - muito, mas muito doidos - eles falavam que gostavam muito do outro. Jorge Ben falou de seu disco, falou do Pepeu, e eu não entendi coisa com coisa. Sabbá agradeceu, Jorge Ben também, e eu fiquei sem entender - porra, por que os dois agradeceram? Quem fez alguma coisa para alguém aí? Ah, deixa quieto.
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Saio deste rico programa do Sabbá e dou mais uma girada na TV. Pego no GNT, já no final, o "Estranhos fins de semana de Louis Theroux", programa excelente, talvez o melhor que eu já vi na NET, só que estava tão no final que eu nem vi o tema. Volto para a TV aberta e caio na MTV. Agora, se segurem.
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Em um cenário meio avermelhado, vários homens e mulheres que eu nunca vi na vida - à exceção da Marina Person e de uma outra VJ - conversam. Os diálogos me confundem.
- Ah, sei lá, no fundo é gostoso...- diz uma.
- O preconceito rola, vocês sabem, mas acho que, aí, nada a ver....- diz outra.
- Bom, eu sou gay, mas não curto não - diz um cara.
- Olha, talvez friccionar o local eu até sinta prazer, mas colocarem o dedo no meu acho que eu não curto não - diz um cara de cabelo enrolado.
- Ah, gente, não quer dizer que o cara seja homossexual, homossexual é o cara que gosta de pinto, que gosta de outro homem, o cara gostar de uma dedada, sei lá, nada a ver, pode ser a do cara - disse outra, sendo um pouco mais clara (?)
Sim, eu caí numa mesa redonda da MTV cujo tema - que pelo jeito estava tomando todo o tempo dos participantes - era "Dedadas no rabo".
Depois dessa, desliguei e fui ler Raymond Chandler. Pena que eu não podia beber sequer um ginlet. Depois dizem que a TV não estimula a leitura.