31 maio, 2002

Jô está surtando
Sério. Um dia a idade ia chegar e pesar na cabeça do ex-humorista e hoje entrevistador. Seu comportamento está visivelmente "descompensado".
Logo depois de acordar para meu primeiro dia de trabalho no horário de Seul, liguei a TV e comecei a ver o Jô, enquanto tomava um café. Logo de cara, antes de apresentar os entrevistados, ele começou a contar que o Rio de Janeiro "agora" tem um serviço telefônico, o Disque-Buraco, através do qual o cidadão denunciava onde teria um buraco.
Além do serviço não ser novo coisa nenhuma, Jô Soares começou a delirar em cima do tema, usando para isso somente o duplo sentido da palavra "buraco". E mandou: "Quando chove o seu buraco enche de água?", imitando a voz de uma possível telefonista.
Como neguinho da platéia deve pagar para arrumar uma vaga ali, eles riem até de foto do Sebastião Salgado. Mas as piadas não tinham graça nenhuma, pareciam coisa de quando a gente era moleque, na rua.
Depois, ele apresentou os entrevistados e cometeu uma das maiores grosserias que um jornalista pode cometer: desqualificou o tema de uma das entrevistas. Ao apresentar um jornalista conhecedor de astronomia, disse, "ele me conta que Marte está cheio de água, muita água". E arrematou: "eu não estava nem dormindo pensando nesse assunto". Eu mesmo demorei a acreditar.
Depois ele humilhou o garçon do programa dizendo, "você parecia uma BICHINHA CHILENA dançando daquele jeito", fazendo uma referência estranha ao país do cara. E acrescentou para duas entrevistadas: "Ele fez filmes eróticos no Chile, um deles se chama O Escoteiro de Pinochet". Uma piada sem graça e de extrema grosseria, de extrema inconsciência - sabe lá qual a relação do cara com a ditadura Pninochet?
Ao apresentar uma gracinha de morena chamada Denise Sato, filha de japoneses e dona de um sex-shop, ele mandou: "Você é míope ou filha de japoneses?". Mais uma vez, uma "piada" sem nenhuma graça, ridícula e sem nexo. E, na minha opinião, uma tremenda falta de educação - sou o cara mais incorreto politicamente que eu conheço, mas detesto fazer qualquer tipo de referência a aspectos físicos de amigos negros, japoneses, coreanos, malaios, portugueses ou vá lá o que sejam.
Durante o que eu aguentei assistir do programa - até a metade da primeira entrevista - não dei uma risada sequer, e ainda fiquei meio constrangido. Foi quando a morena do sex-shop disse "cabelos são uma arma de sedução" (no caso dela, eram mesmo), e o Jô interrompeu rápido, "ah, sim, agora entendo porque o Derico é assim". Piadinha de uma previsibilidade enfadonha. A câmera aí cortou para o Derico, que dava uma risada meio estranha.
Na minha leitura, numa boa, a risada do Derico parecia dizer, "ainda bem que eu ganho direito porque tá ficando cada vez mais difícil aturar esse gordo chato".
Bom, como Derico ganha umas 20 vezes mais do que eu, ele que fique por lá. Eu ganho mal, mas o controle remoto é meu. Até qualquer dia, Jô Soares.