Um dia qualquer de 1994
De 1993 para 1994, eu me lembro de ter passado um reveillon de três dias. Entrei na casa do cara para o reveillon-churrasco às 20h do dia 31 de dezembro e só saí às 1h30 da madrugada do dia 3, depois de aproveitar o ensejo para comemorar meu aniversário. Me lembro de ter saído da festa satisfeito, feliz, mas um pouco deprimido. À medida que eu me aproximava de casa, fui ficando mais deprimido ainda. A festa acabara. Ia voltar à realidade. Estava trabalhando em um jornal para divulgação externa da faculdade, mas estava de férias.
O gosto de fim de festa é dos mais terríveis, ainda mais quando a festa durou muito e foi boa. É um eterno retornar de férias, de carnaval, um fim de ciclo nas nossas vidas, um amargor quase existencial. Nessa hora, precisamos de suportes emocionais.
E eu entrei em casa, estava a TV ligada, minha mãe vendo algum programa jornalístico, de retrospectiva. Era no SBT. Passei batido para a cozinha, bebi água - que detesto - e voltei, ouvindo aquela música terrível, "Foi Deus que fez você", cantada pela Amelinha, tocando no tal programa jornalístico. Me aproximei para ver o que era, e tudo se explicou: era Romário.
Gols dele pela seleção - meses antes, ele tinha ajudado a seleção a se classificar com dois gols em cima do Uruguai - pelo Barcelona, pelo PSV, e até pelo - argh - Vasco.
E me veio naquele momento uma sensação diferente, do tipo, "ei, calma, a festa acabou, mas esse ano tem Copa, tem Romário na Seleção, vamos ser campeões". A cada gol do Romário que passava na TV, crescia a esperança, de que, enfim, a festa continua, e a dor não é o fim. Como diz o Blues Boy.
O resto, naquele ano de 1994, é História. E de lá para cá, o Romário não virou ídolo do Vasco, ou do Flamengo. É do Brasil. E naquela noite, de tanta incerteza, de fim de festa, a única coisa que a gente podia afirmar era que o Brasil teria Romário. Depois, teve io Branco, o Bebeto, o Mazinho, o Jorginho, o Dunga. Mas a gente só sabia mesmo que teria Romário. E que isso bastava para os brasileiros ficarem mais felizes - a marra, a alegria do gol, a persistência, e, sim, mais do que nunca, a paixão pela Seleção Brasileira. Romário é indiscutivelmente o jogador em atividade que é mais apaixonado pela Seleção Brasileira.
Mas, infelizmente, o técnico que perdeu para Honduras, que perdeu para a Bolívia, que amarelou para a Argentina e ainda propôs voltar com o empate (sim, isto é o que vai ser guardado da biografia do sr. Scolari) parece ter dito a amigos que o campeão do mundo Romário não pode ir a uma Copa do Mundo. E que está observando o Cocito.
Me abstenho de comentar.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home