12 novembro, 2001

Saudade

Hoje acordei pensando na saudade e em todo a impotência que esse sentimento nos dá. Saudade da primeira casa, do cheiro de abacate no sítio da avó, do primeiro beijo, do colo do pai, das broncas da mãe. Saudade até de coisas que não vivi, de gente querida que se foi, saudade de não entender nada, de ver desenho animado e comer biscoito, saudade, isso não é saudade, é nostalgia. Porque saudade dói, saudade aperta, saudade sangra, saudade sua, saudade minha, saudade de sentir saudade, saudade é nó cego, saudade é salgada, saudade é bom, saúde. Ter saúde é ter saudade. Ter saudade é ter saúde. Viver é bom.

“...não quero ser triste
como o poeta que envelhece
lendo maiakóvski na loja de conveniência
não quero ser alegre
como o cão que sai a passear
com o seu dono alegre
sob o sol de domingo
nem quero ser estanque
como quem constrói estradas e não anda
quero no escuro
como um cego tatear estrelas distraídas...”
Zeca Baleiro